PRÁTICA DE LEITURA NA EPEJA: TERTÚLIA LITERÁRIA DIALÓGICA NA UNAPI

Apresentação
A Tertúlia Literária Dialógica é uma atividade que compreende a leitura dos clássicos da literatura universal na perspectiva dialógica. Pode ser definida pela interação social entre as pessoas mediada pela linguagem. É um processo não apenas de leitura, mas também de diálogo, por meio do qual as pessoas podem ler, trocar ideias, aprender conjuntamente e produzir mais conhecimento, encontrando, assim, novos significados que transformam a linguagem e o conteúdo de suas vidas. O ler dialogicamente implica mover o centro do ato de significado de uma interação subjetiva entre a pessoa e o texto, em nível individual, para uma interação intersubjetiva em relação a este mesmo texto. Os estudos em torno da Tertúlia Literária Dialógica evidenciam que a aprendizagem, especialmente da leitura, depende de muitos elementos que vão além das abordagens metodológicas de ensino de leitura na escola, que prezam desde o processo cognitivo de decodificação, passando pela experiência intersubjetiva do ler.

Objetivos
Promover o encontro semanal entre estudantes e coordenadora do projeto para aprofundar estudos referentes às obras centrais do projeto; 2. Auxiliar estudantes na criação de sentido para a leitura de livros como atividades culturais, de direito de todas as pessoas adultas 3- promover a leitura de literatura clássica com pessoas adultas da UNATI-UNIFAL; 4- auxiliar no processo inicial de alfabetização

Justificativa
Apresentamos a Tertúlia Literária Dialógica como uma atividade social, cultural e educativa, baseada na leitura de clássicos da literatura universal e no diálogo sobre o lido e o mundo da vida. Ao realizar-se com coletivos que vivenciam diferentes situações de exclusão, buscamos a superação de alguns muros antidialógicos, que, entre outras coisas, afirmam que apenas pessoas com alta escolaridade e, portanto, de classe social privilegiada, podem acessar e compreender a literatura clássica. O potencial transformador da Tertúlia advém dos princípios da aprendizagem dialógica que a orienta (FLECHA, 1997), são eles: diálogo igualitário; inteligência cultural; transformação; dimensão instrumental; criação de sentido; solidariedade; igualdade de diferenças. Na Tertúlia Literária Dialógica, as/os participantes não se relacionam com a literatura de forma colonizada , mas desfrutam da leitura, realizando diferentes interpretações e dialogando sobre elas, de modo articulado com suas vidas. Nesse processo, a leitura da palavra se amplia com o encontro das diferentes leituras de mundo, tornando a atividade espaço de formação humana e humanizadora. A Tertúlia Literária Dialógica surge então, na segunda metade dos anos 90, inspirada em iniciativas educativas literárias da própria população e passa a ser desenvolvida em diferentes tipos de entidades como: escolas de pessoas adultas, associações de mães e pais, grupo de mulheres, entidades culturais e educativas. A atividade chega ao Brasil através de vivências na Verneda de Sant-Martí por pessoas do NIASE, no ano de 2002 e no ano seguinte, em São Carlos, é iniciada na UATI (Universidade Aberta da Terceira Idade), com a participação de homens e mulheres de diferentes idades, grupos sociais e grau de escolaridade. A partir de então, a Tertúlia consolida-se como trabalho de extensão, formada por uma equipe multidisciplinar, que se organiza através de reuniões operacionais semanais, grupos de estudos da base teórica do projeto, bem como atuação nas distintas Tertúlias que acontecem em diferentes coletivos culturais e sociais, na cidade de São Carlos, sendo ambos os espaços de formação para a aprendizagem dialógica. A abertura de novos espaços de Tertúlia foi sendo gradativa com a apresentação do projeto para as diferentes comunidades, com o foco na educação de jovens e adultos e pessoas em situação de exclusão. Atualmente, na cidade de São Carlos a Tertúlia Literária Dialógica ocorre em diferentes espaços de formação educacional, em escolas municipais do ensino fundamental com crianças, professoras e familiares envolvidos (GIROTTO, 2011), centros comunitários etc. A tertúlia dialógica é uma atividade que se diferencia das demais práticas de leitura não apenas pelo seu caráter dialógico, mas também pela sua organização e funcionamento. Uma definição bem clara pode ser encontrada nas palavras de Flecha (1997): "A Tertúlia Literária se reúne em sessão semanal de duas horas. Decide-se conjuntamente o livro e a parte a comentar em cada próxima reunião. Todas as pessoas leem, refletem e conversam com familiares e amigos durante a semana. Cada uma traz um fragmento eleito para ler em voz alta e explicar o significado atribuído aquele parágrafo. O diálogo vai sendo construído a partir dessas contribuições. Os debates entre diferentes opiniões se resolvem apenas através de argumentos. Se todo o grupo chega a um acordo, ele se estabelece como a interpretação provisoriamente verdadeira. Caso não se chegue a um consenso, cada pessoa ou subgrupo mantém sua própria postura; não há ninguém que, por sua posição de poder, explique a concepção certa e a errônea. (FLECHA, 1997, p. 17 e 18)". Afirmo, ainda, que a experiência realizada nas tertúlias e algumas compreensões teóricas expostas anteriormente nos permitem encontrar evidências em estudos recentes orientados desde uma perspectiva dialógica, que vem indicando a participação das famílias nas atividades tanto acadêmica como cotidianas em que se tenha oportunidade de vivenciar práticas de leitura e escrita, dentro e fora da aula ou do centro educativo, como essenciais para gerar o aumento da aprendizagem do código escrito e ampliação do domínio das competências leitoras pelos adultos (VALLS, SOLER y FLECHA, 2008). Tais processos são possíveis, pela possibilidade da leitura se apresentar de forma contextualizada, supondo uma compreensão compartilhada e ainda promovendo a reflexão crítica, facilitando maior aquisição desta competência. A leitura torna-se, também, mais motivadora e tem sentido para as pessoas que estão em interação no marco de um diálogo que se propõe igualitário. (AGUILAR, et al., 2010). Com base nesses argumentos entendemos que a leitura dialógica promovida pela prática da tertúlia pode ser realizada em sala de aula, mas que não se esgota nesse espaço, vai mais além, adentrando os espaços da escola, da família, do bairro. Assim, na continuidade do projeto, destacamos sua realização na UNATI UNIFAL (alfabetização).

Beneficiário
- Pessoas adultas que são estudantes da Universidade Aberta da Terceira Idade - Estudantes da graduação da UNIFAL (presencial) - Pessoas da Comunidade local e geral