CIÊNCIAS EXATAS PARA JOVENS ESTUDANTES: BUSCANDO FÍSICAS++

Apresentação
Para incentivar estudantes do sexo feminino de escolas públicas a seguirem profissão ou carreira relacionada à área de ciências exatas, a presente proposta consiste em duas ações: (1) difusão e popularização das ciências exatas; (2) curso de física de curta duração para alunas do ensino médio. A primeira ação ocorrerá em espaços educativos informais, de forma divertida e lúdica, de modo a promover discussões sobre igualdade de gênero e sobre a atividade científica enquanto opção de carreira e profissão. A segunda ação será pautada na filosofia de trabalho da "Rede Nacional de Educação e Ciência: Novos Talentos da Rede Pública", por meio de um curso de física de curta duração a ser realizado no período de férias escolares. Buscando aproximar a comunidade local do âmbito universitário, o projeto buscará utilizar-se da ciência para discutir e balancear a questão da igualdade de gênero em ciências exatas e para divulgar as carreiras científicas como meio de transformação e ascensão social.

Objetivos
1. Divulgar as carreiras de ciências exatas oferecidas pela UNIFAL-MG em Alfenas e região, por meio da promoção de visitas interativas à Unidade Educacional II, buscando aproximar a comunidade local do âmbito universitário, utilizando-se da ciência como um meio de transformação e ascensão social; 2. Promover e realizar captação das estudantes de escolas públicas de Alfenas, incentivando-as a ingressarem nos cursos de Licenciatura em Física ou Bacharelado em Ciência da Computação oferecidos pela UNIFAL-MG; 3. Prevenir a evasão das jovens do sexo feminino nos cursos de Licenciatura em Física e Bacharelado em Ciência da Computação, ambos oferecidos pela Universidade Federal de Alfenas; 4. Contribuir para a melhoria da educação básica oferecida nas Escolas Estaduais Judith Vianna, Doutor Emilio da Silveira e Padre José Grimminck, oferecendo cursos de capacitação aos professores e professoras de física dessas escolas; 5. Investigar o impacto das ações realizadas no projeto no âmbito desta proposta no imaginário de docentes e discentes do Ensino Médio.

Justificativa
As restrições e proibições à mulher ocorrem, conforme observa Ferreira (2003), desde a Antiguidade, limitada ao espaço privado, doméstico e da passividade, enquanto o homem ocupa o espaço público, do poder e da ação. O espaço público não inclui a natureza, desde sempre identificada com o feminino, ambas, natureza e mulher, sendo objetos de dominação. “O exemplo mais significativo foi a perseguição às mulheres na idade média – que, ao praticarem medicina a partir de um conhecimento empírico da natureza foram exterminadas como bruxas” (FERREIRA, 2003, p.191). Assim, para Agrello e Garg (2009) o problema da sub-representação de mulheres nas ciências exatas seria ideológico e não biológico e estaria associado à criação social e familiar e à escolarização da mulher que lhes inculcam imagens sobre seu papel. Contribuindo para uma mudança de mentalidade, em meados do século XIX, estudos passam a criticar a visão de inferioridade biológica da mulher, bem contestada em publicações como O Segundo Sexo: Fatos e Mitos de Simone de Beauvoir, observando-se nessa época maior ingresso das mulheres em carreiras tradicionais. É aproximadamente nessa época que, no Brasil, as mulheres passam a não precisar mais da autorização dos maridos para exercerem profissão remunerada e passam a ser consideradas cidadãs com direito ao voto (FERREIRA, 2003). Mesmo com a grande presença das mulheres no mercado de trabalho e universidades em tempos mais recentes, Barbosa e Lima (2013) afirmam que esse crescimento se dá de forma desigual entre as diversas áreas, sendo pequena nas áreas exatas e decrescente quando observam-se os níveis mais altos das carreiras. Leta (2003) apresenta dados sobre a presença de mulheres atuando em áreas científicas e tecnológicas, apontando que nos EUA entre 1950 e 1970 “[...] nas engenharias, elas representavam cerca de 1% do total de empregados; já nas ciências naturais a participação delas foi de aproximadamente 10%, oscilando entre 5% na física e 27% na biologia” p.272. Ainda a esse respeito, em 2018, após 55 anos, o Prêmio Nobel de Física teve uma mulher premiada. Ao longo da história, somente 3 mulheres receberam tal láurea: Marie Curie (1903), Maria Goeppert-Mayer (1963) e Donna Strickland (2018), o que também ressalta a desigualdade de gênero nas ciências exatas de mais alto nível. Em âmbito escolar, também é importante ressaltar o papel que a educação e a escola têm na criação ou combate de um imaginário social estereotipado sobre a mulher. Para Ferreira (2003) a pouca inserção da mulher na vida pública se deve à sua educação voltada para a passividade e submissão enquanto os homens são educados para serem agressivos e dominadores, fazendo com que as mulheres se inferiorizem e não escolham profissões associadas a características masculinas. Desse modo, fazem-se necessários programas de estímulo na escola básica que atraiam meninas para as ciências exatas e tecnologia e que se busquem formas de dar visibilidades às mulheres que atuam nessas áreas (BARBOSA E LIMA, 2013). Para Leta (2003) a maior participação de mulheres só tem a contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico do País criando-se instituições pautadas na diversidade de valores, condutas e ações. Para isso, porém, há entraves relevados no próprios discursos femininos: o imaginário dos estudantes de escolas da região de Alfenas é permeado por heróis do sexo masculino e poucas vezes heroínas são citadas (LONDERO E SORPRESO, 2015). Além dessas questões, realizamos um levantamento das matrículas de mulheres nos diversos cursos de graduação da UNIFAL-MG no período de 2015 a 2018, a partir de dados fornecidos pelo Departamento de Registros Gerais e Controle Acadêmico da instituição. No período considerado, há uma tendência da média de matrículas de mulheres nos cursos das áreas de ciências exatas, matemática, computação, engenharia e tecnologias em torno de 27%, bem abaixo de 50%, sendo de fato consideravelmente menor do que nas áreas da saúde e biológicas (75%) e nas áreas de ciências humanas (67%). Ainda com relação a dados institucionais, é alarmante o fato de que a Licenciatura em Física é segundo curso de graduação da UNIFAL-MG com maior evasão: aproximadamente 70% dos matriculados desistem do curso. O desenvolvimento do presente projeto possui potencial para contribuir para a mudança de curso dessas tendências díspares e de evasão observadas ao longo dos últimos quatro anos.

Beneficiário
Alunas e alunos de Ensino Médio de Escolas Públicas de Alfenas e região e graduandos da UNIFAL-MG. Para combater a evasão, as bolsas concedidas serão distribuídas igualmente entre alunos ingressantes e alunos veteranos dos cursos de Licenciatura em Física e/ou Bacharelado em Ciência da Computação.