ESCOLA DE CAPOEIRA ANGOLA RESISTÊNCIA NO CHICO REI

Apresentação
O projeto tem por base a iniciação e prática da capoeira angola e visa levar o praticante concomitantemente a explicitar as suas virtudes e a encontrar-se com a realidade, para nela atuar de maneira consciente, eficiente e responsável, com vistas à atenção das aspirações pessoais, psíquicas e sociais do praticante, independente de sua faixa etária. Assim, o projeto prevê a realização de 2 (duas) aulas semanais de capoeira angola com duração de 2 horas cada. As aulas serão realizadas no espaço do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei de Poços de Caldas, sendo estas gratuitas e abertas para toda comunidade, sem distinção de gênero, faixa etária ou condição social. Além das aulas, haverá a realização de apresentações mensais de rodas de capoeira em praças e ruas da cidade de Poços de Caldas, com o intuito de divulgar e propagar a arte da capoeira, além de garantir que toda a população tenha acesso sobre essa prática tão peculiar.

Objetivos
A capoeira visa favorecer a criatividade e o exercício físico e mental justamente por deslocar a atenção para áreas e questões que não estão diretamente ligadas ao nosso trabalho rotineiro, o que propicia a criatividade e pode prevenir problemas de saúde ligados à ansiedade e ao estresse, por exemplo. Assim, nessa concepção, a capoeira também atua como uma função terapêutica, em um processo de libertação corporal e mental das neuroses, que são frutos de mecanismos disciplinadores e de controle social. A roda de capoeira é um espaço propício para despertar as experiências artísticas de libertação e expressão corporal, musical, gestual, marcial e espiritual. Ela é fundamental para o aprendizado do/a capoeirista, pois é nela que ele/a vai colocar em prática os conhecimentos adquiridos nas aulas e expressar aqueles vividos na vida, participando do ritual como um todo, com canto, toque e jogo. Esse ritual, em certo momento, se encerra e as pessoas deixam aquele microcosmo para voltar às outras temporalidades que regem suas vidas, num movimento dialético, pois o capoeirista atua na temporalidade linear regidas pelos relógios, calendários e tarefas do cotidiano, mas também tem sua noção do tempo alterada pelos mantras, pelos transes e pelas diversas sensações proporcionadas na roda. É possível compreender a importância e significado da música na capoeira (percussão e canto) pela função primordial que a música exerce na roda de capoeira, indicando rumos para o jogo ou para os toques, dando conselhos, criticando, elogiando e/ou cantando histórias com fundos metafóricos (ou diretos) que podem dizer muito aos jogadores presentes. Dentre os objetivos específicos destacamos, ainda: - Estimular trabalho em equipe; - Despertar interesse na cultura afro-brasileira; - Criar espírito solidário e cidadão em relação à cultura popular brasileira; - Conscientizar sobre as diversas manifestações culturais afro-brasileiras; - Incentivar a prática esportiva tanto para a comunidade quanto para os estudantes; - Teorizar a história da capoeira durante os encontros dos praticantes.

Justificativa
A UNIFAL-MG é uma instituição educativa de grande importância nacional e regional. Os conhecimentos produzidos e divulgados pela Universidade são formados por profissionais e estudantes muito envolvidos com o tripé ensino, pesquisa e extensão. No campus da UNIFAL em Poços de Caldas, o conhecimento é mais voltado para as áreas de Ciência e Tecnologia. A áreas de humanidades, artes e cultura, possuem menor influência sobre a comunidade acadêmica e externa à universidade. Os saberes da capoeira angola se baseiam na memória de seus mestres em tempos passados. Essas memórias são repassadas pelos mestres atuais aos seus alunos, porém, contextualizada e historicamente colocada em seu tempo. Valores de luta pela liberdade, contra a opressão mental, física e econômica, são repassados no aprendizado da capoeira angola que, com seu caráter dinâmico, consegue se embrenhar em espaços tidos como dominantes e, ao mesmo tempo, se manter em espaços marginalizados e excluídos socialmente. Como ensina Mestre Topete, “o capoeirista é um camaleão”, que muda de cor para se adequar e sobreviver no meio em que vive. O aprendizado da capoeira angola, entretanto, também revela as contradições presentes nesse universo, que também reproduz valores dominantes, de competição, o autoritarismo e o machismo. Da mesma forma como a capoeira resistiu até o tempo presente graças à luta dos próprios capoeiristas, depende deles mesmos para que esses valores não sejam como um re-passado imutável. As tradições inventadas historicamente devem ser re-inventadas buscando libertarem-se dos conceitos e amarras que as prendem em propósitos colonizantes. Esses mesmos propósitos colocam e apresentam a cultura popular, a cultura de luta do povo, como “empalhadas”, para serem observadas em museus ou representações folclóricas. A capoeira angola se constituem a partir do cotidiano de seus participantes que, de acordo com sua dedicação e identificação com a expressão, buscam introjetar esses saberes em suas vidas e delas trazerem suas contribuições para o aprendizado coletivo da manifestação na Escola. Assim, os saberes apreendidos e vivenciados dentro e fora da ECAR são compartilhados entre seus integrantes, criando vínculos de amizade e fortalecendo seus laços comunitários, bem como a própria cultura capoeira. A ECAR mantém um caráter popular entre seus integrantes, unindo pessoas de diferentes realidades, situações sociais, idades e experiências de vida diferentes em um espaço de aprendizagem em que comungam alguns princípios e objetivos comuns que dependem de cada um deles para se concretizarem ou não. Essa diversidade de realidades, que se cruzam e complementam, resulta em ricas práticas educativas que reinventam a educação e a cultura popular pela capoeira e pela vida de seus praticantes. A educação para a capoeira angola acontece, então, dentro e fora da instituição. Dentro da ECAR entre suas formalidades e flexibilidades que a definem como uma escola de educação não-formal, mas ao mesmo tempo para fora dela, na vida do cotidiano de cada educando/a ou educador(a) e na convivência com as pessoas da ECAR fora do contexto das aulas, em viagens, festas, visitas ou quaisquer outros encontros realizados no âmbito da amizade estabelecida. Os saberes da capoeira angola são circulados, também, pela educação formal, pois esta influenciará (e será influenciada pelo) o aprendizado da capoeira, além de, como vimos, cada vez mais a capoeira ser inseridas em currículos ou planejamentos interdisciplinares das escolas formais. Somando-se todas essas relações educativas aos princípios transformadores (físicos, mentais e sociais) da capoeira angola, propusemos a consideração de uma educação trans-formal da capoeira.

Beneficiário
As aulas serão realizadas no espaço do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei de Poços de Caldas, sendo estas gratuitas e abertas para toda comunidade, sem distinção de gênero, faixa etária ou condição social.