ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REVISITANDO OS CÍRCULOS DE CULTURA A PARTIR DA TERTÚLIA LITERÁRIA DIALÓGICA

Apresentação
O projeto aqui apresentado visa promover a alfabetização de pessoas jovens e adultas na cidade de Alfenas. A proposta será desenvolvida a partir de discussões fundamentadas em pressupostos do campo da Educação de Jovens e Adultos em especial, de uma concepção emancipatória de sujeito, tal como trabalhada nos Círculos de Cultura. Esta perspectiva pressupõe um caminho que vai da informação ao conhecimento e cuja consciência do indivíduo sobre o seu próprio processo como aprendiz é tida como a mais relevante. Consciência essa estabelecida na relação com a biografia pessoal de cada um e essa em intercâmbio com a de seus pares, entre eles próprios e educadores. Acresce aos Círculos de Cultura, nesta proposta, o trabalho desenvolvido no âmbito da Tertúlia Literária Dialógica. Isso significa que o ler dialogicamente implica mover o centro do ato de significado de uma interação subjetiva entre a pessoa e o texto, em nível individual, para uma interação intersubjetiva em relação a estes mesmos.

Objetivos
• Realizar, junto à Secretaria Municipal de Educação e Centros Comunitários da cidade de Alfenas-MG, um mapeamento de jovens e adultos em processo de alfabetização. • Atuar conjuntamente com a à Secretaria Municipal de Educação e Centros Comunitários da cidade de Alfenas-MG na divulgação e propaganda da ação aqui apresentada. • Promover a leitura da literatura clássica através da Tertúlia Literária Dialógica • Desenvolver, na perspectiva dos Círculos de Cultura, atividades de análise de imagens associadas aos temas e discussões realizadas nas Tertúlias Literárias Dialógicas. • Potencializar as capacidades de reconhecer, comparar, quantificar, calcular, julgar, recriar e propor através das atividades de análise, interpretação e crítica de textos imagéticos • Exercitar o olhar sobre os textos imagéticos procurando naquilo que está explícito e implícito, suas mensagens, valores e representações • Desenvolver habilidades de produção de sínteses por meio da identificação de palavras-chave a partir da Tertúlia Literária Dialógica e análise de imagens. • Realizar atividades de escrita envolvendo as palavras-chave • Realizar atividades de produção de imagens envolvendo as palavras-chave • Construir um glossário das palavras-chave trabalhadas

Justificativa
Desigualdades nas condições de moradia e de acesso à internet ganharam visibilidade frente aos impasses e dificuldades enfrentadas pelos sistemas de ensino na implementação de iniciativas de educação remota, em função da necessidade de isolamento social decorrente da pandemia do covid-19. Frutos dos efeitos da classe social, da enorme desigualdade de renda e do descaso político com as populações pobres e vulneráveis, os obstáculos à plena implementação da educação remota também dizem respeito aos baixos índices de escolaridade da população adulta, bem como à relação entre nível de instrução e renda. Conforme dados do IBGE, em 2018, o número de pessoas analfabetas com 15 anos de idade ou mais era de 11.3 milhões. Mais da metade da população brasileira com 25 anos de idade ou mais não concluiu a educação básica obrigatória, sendo que 33,1% não tinham sequer o ensino fundamental completo. Ainda de acordo com o IBGE (2018), as pessoas que não possuíam instrução apresentaram o menor rendimento médio (R$ 842). Já o rendimento das pessoas com ensino fundamental completo foi 67,3% maior, chegando a R$ 1.409. Por outro lado, entre os que tinham ensino superior completo, o rendimento médio foi de R$ 5.110 (IBGE, PNAD Contínua, 2018). Ou seja, os problemas suscitados pela suspensão das aulas presenciais reafirmam as relações entre desigualdades sociais e desigualdades escolares, mas também a interdependência entre educação de crianças e jovens e escolaridade dos adultos. Apesar de importantes avanços e conquistas no campo educacional ao longo do período republicano brasileiro, a atual crise sanitária, instalada pela pandemia do novo coronavírus, além de desencadear profundas crises nos mais diversos setores, deu novo fôlego para aquilo que já sabíamos: nossa sociedade é injusta e desigual e nosso sistema de ensino não é democrático. Afinal, é sabido que as famílias de baixa renda e escolaridade são aquelas que enfrentam as maiores dificuldades para atender a contento às demandas da escola. No atual cenário não tem sido diferente. Essas famílias são as que seguem encontrando os obstáculos mais severos para construir uma rotina de estudos com os filhos em casa e dar-lhes suporte especial nas atividades remotas. Tais dificuldades estão relacionadas à impossibilidade de acessar a internet de casa ou à precariedade das condições de conectividade, à indisponibilidade de tempo dos adultos, ao desconhecimento pedagógico necessário para orientar os filhos na realização das tarefas e a pouca (ou nenhuma) familiaridade dos pais com os conteúdos escolares. Enfim, os problemas relacionados às condições de moradia e de acesso à internet para fins educacionais suscitados pela pandemia guardam estreitas relações com nossos graves problemas sociais e, de maneira interdependente, dizem respeito às influências da educação dos pais no aproveitamento escolar dos filhos. Essas relações de interdependência estão presentes em diferentes estudos. Recentemente, por exemplo, ao examinar dados do IBGE/PNAD 1996 e 2012 em trabalho sobre mobilidade educacional intergeracional ascendente no Brasil (situação em que os filhos superam a escolaridade de seus pais), Flávia Vitor Longo e Joice Melo Vieira (2017) apontam que “os filhos de mulheres com mais baixa escolaridade são os que entram mais tardiamente no sistema escolar, bem como tendem a deixá-lo precocemente”. Que “a partir dos 15 anos, quanto mais baixa a escolaridade da mãe, mais rapidamente declina a proporção de adolescentes inseridos no sistema de ensino”. E dentre suas conclusões, que “nos dois anos analisados, identificamos a variável “renda domiciliar per capita” como sendo aquela que está mais associada com a mobilidade (LONGO, VIEIRA, 2017, p. 1062, 1066-1067). Muitos outros estudos sobre essas relações apontam na mesma direção. Não é o caso de recuperá-los aqui. Trata-se de pontuar que (ainda) estamos diante de questões não resolvidas em relação à democratização do ensino no Brasil e que o atual cenário torna imperativo enfrentar. Será possível seguir tratando a educação das crianças e adolescentes dissociada da educação dos jovens e adultos? Até quando será necessário insistir que a interdependência entre educação dos filhos, escolaridade dos pais e classe social é fator de democratização do ensino? Até quando será necessário insistir na luta pela efetivação da educação como um direito de todas as pessoas? Como a universidade em geral, e os cursos de formação de professores, em específico, têm participado na efetivação desse direito? É portanto, circunscrito no cenário assinalado acima, na compreensão da educação como um direito de todas as pessoas, na compreensão de que o direito à educação não prescreve com a idade, na compreensão de que os efeitos da classe social, das condições materiais e culturais nas interações familiares e seus impactos nas oportunidades de vida dos filhos, particularmente no que se refere à capacidade das famílias corresponderem às expectativas das escolas

Beneficiário
pessoas jovens e adultas em processo de alfabetização da cidade de Alfenas/MG