SABERES, REFLEXÕES E PRÁTICAS: A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM PARCERIA COM A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE – UNATI

Apresentação
Este projeto consiste em componente do Programa Diálogos: linguagens, literaturas e culturas (Unifal/MG) e se realiza mediante parceria com a Unati (Unifal/MG). A ação reside na oferta de oficinas dedicadas a potencializar a circulação de saberes, reflexões e práticas da pessoa idosa. As oficinas buscam encorajar o idoso a enunciar, por meio de produções orais e escritas em inglês, memórias individuais relativas a sua experiência profissional, pessoal ou a qualquer modalidade de prática cidadã que faça parte de sua trajetória. Buscam, também, fomentar a articulação de memórias individuais à memória coletiva, destacando a participação do idoso em processos culturais, socioeconômicos e históricos engendrados pelos grupos a que pertence. A ação confere, aos discentes participantes, a oportunidade de apurar a sensibilidade para ensinar e aprender com a pessoa idosa, respeitando seu ritmo de aprendizagem e expressão em inglês e cultivando uma cultura de tolerância em face das diferenças.

Objetivos
- Propiciar ao idoso regularmente inscrito na Unati o contato com a língua inglesa a partir da realização de oficinas de arte, cultura e expressão oral e escrita; - Encorajar o idoso a enunciar, por meio de produções escritas e orais em língua inglesa, memórias individuais relativas a sua experiência profissional, pessoal ou a qualquer modalidade de prática cidadã que faça parte de sua trajetória; - Incentivar o idoso a articular, por meio de produções escritas e orais em língua inglesa, memórias individuais à memória coletiva, lançando luz à participação da pessoa idosa nos processos culturais, socioeconômicos e históricos engendrados pelos grupos a que pertence; - Valorizar a voz e a experiência do sujeito idoso, estimulando-o a enunciar sobre si e sobre o mundo em uma língua estrangeira; - Criar espaços para a realização de atividades artístico-culturais em que a pessoa idosa seja protagonista da produção e da difusão de saberes, reflexões e práticas, a serem divulgadas à comunidade acadêmica da Unifal/MG e à comunidade externa; - Estimular práticas de escrita e leitura em língua inglesa segundo o perfil e os interesses da pessoa idosa; - Desenvolver, a partir das práticas de escrita e leitura em língua inglesa, discussões que possibilitem à pessoa idosa estabelecer cotejos entre aspectos relativos ao seu lugar de enunciação e elementos linguísticos, culturais, históricos e artísticos provenientes de países anglófonos; - Aprimorar os conhecimentos de arte, cultura e língua inglesa a partir da articulação entre as oficinas previstas nesta proposta e os cursos de inglês ofertados pelo Programa Diálogos e pela Unati.

Justificativa
Reflexões construídas em diferentes momentos históricos e articuladas a partir de variados campos do conhecimento, como o filosófico, o sociológico e o literário, apontam para uma sistemática associação da velhice a sentidos depreciativos. Com efeito, a construção imagética da senescência a partir da repulsa e do estranhamento data de tempos remotos. Segundo Teodoro Rennó Assunção, observa-se, já em Mimnermo (630 – 600 a.C.), a “representação da velhice como entidade objetivada, de certo modo externa ao homem”, ao passo que a juventude seria um dos elementos constitutivos da natureza humana. (ASSUNÇÃO, 1998/1999, p. 158) A senescência, sob este prisma, chega de assalto e se impõe às histórias individuais como um fardo que se deve carregar. Assunção ressalta que, também em Homero, a juventude e a velhice são dispostas como instâncias portadoras de contrastes entre os quais um exercício de conciliação seria improvável: “O que aproxima este modo de representação [o de Mimnermo] do de Homero é antes a organização da juventude e da velhice como dois campos de forças em tudo opostos e entre os quais não será possível qualquer intercâmbio mas apenas uma transição irreversível.” (ASSUNÇÃO, 1998/1999, p. 158) O cotejo entre tais estágios da vida pode ser expresso, respectivamente, ainda sob a óptica de Mimnermo, por meio de enfileiramentos de pares como “o prazer e a dor; o amor e a desconsideração (ou o ódio); a luz e a escuridão; a vida e a morte; a beleza e a feiúra [sic]; a despreocupação e as preocupações.” (ASSUNÇÃO, 1998/1999, p. 159) Percebe-se desse modo que, em Mimnermo e, em certa medida, em Homero, a velhice está associada a processos de degeneração física e anímica, não havendo a possibilidade de se vislumbrar “uma dimensão construtiva do tempo” (ASSUNÇÃO, 1998/1999, p. 160), isto é, uma relação de continuidade na qual a idade madura corresponda, eventualmente, a um período virtuoso de colheita de experiências. Embora apreciações positivas da velhice ou ao menos do processo de amadurecimento sejam observadas em Cícero e, mais adiante, em Agostinho de Hipona e em Michel de Montaigne, verifica-se que a depreciação da velhice atravessa o tempo e se acerca do momento histórico atual, como pontua Simone de Beauvoir em estudo publicado em 1970 sobre o modo como as coletividades percebem o idoso. Beauvoir pondera que o velho, desprovido de uma “dimensão teleológica”, manifestada em atividades por meio das quais possa oferecer algo ao grupo, é definido “[...] por uma exis e não por uma praxis. O tempo o leva para um fim – a morte – que não é o seu fim, nem é proposto por algum projeto. Surge, por isto, diante dos indivíduos ativos, como uma ‘espécie estranha’ na qual êles [sic] não se reconhecem.” (1970, p. 243, grifos originais) Como observa Philippe Ariès (1981, p. 36), o conceito de velhice é modulado conforme o devir histórico, recebendo traços e correspondendo a faixas etárias variáveis. Nos últimos anos, com o aumento da expectativa de vida tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, discussões sobre a velhice têm sido colocadas na ordem do dia. No âmbito dessas discussões, propõem-se, por exemplo, associações entre velhice e noções de desenvolvimento, conforme assinala António Manuel Fonseca: “[...] ao longo da segunda metade do século [XX] foram emergindo concepções de natureza multidisciplinar que reflectiam [sic] conceitos diferenciados de desenvolvimento. Essas concepções baseiam-se no pressuposto de que o desenvolvimento ocorre ao longo de toda a vida e é determinado não apenas pela idade [sic] mas por múltiplos outros factores [sic], o que acabou por alargar a própria esfera de acção [sic] da ciência desenvolvimental” [sic]. (FONSECA apud SCHWERTNER, BODNAR, 2018, p. 2) As manifestações artístico-culturais, bem como os variados campos do conhecimento voltados ao estudo dessas manifestações, não se fazem alheios às discussões sobre a velhice (cf. BOSI, 1997; SECCO, 1994; WORSFOLD, 2005). Por isso, em face da relevância das relações que vêm sendo estabelecidas entre a temática da velhice e campos como os da criação artística (cf. BIOY CASARES, 2005; ATWOOD, 2003; SCHWEBLIN, 2017), da crítica literária (cf. SECCO, 1994; WORSFOLD, 2005) e do registro de memórias individuais e coletivas (cf. BOSI, 1997), compreende-se como relevante a proposição de uma ação de extensão capaz de realçar as percepções sobre a velhice na contemporaneidade. Sustenta-se, também, a pertinência de que percepções sobre a velhice, bem como os saberes, as reflexões e as práticas a ela relacionadas, sejam enunciadas pelo próprio sujeito idoso, não raro silenciado nas relações socioeconômicas e nas dinâmicas de produção de conhecimento. A ação ora proposta, consubstanciada em projeto de extensão, objetiva potencializar a voz do idoso e a articulação de seu discurso não apenas na língua materna, mas também a partir da estruturação de produções orais e escritas em língua inglesa.

Beneficiário
Alunos regularmente matriculados na Universidade Aberta à Terceira Idade – Unati, vinculada à Universidade Federal de Alfenas – Unifal/MG.