ACERVO DA CULTURA NEGRA CONGADEIRA EM POÇO FUNDO E NO SUL DE MINAS GERAIS

Apresentação
Esse projeto visa construir um acervo digital de entrevistas orais, audiovisuais e fontes imagéticas, tendo como foco os grupos relacionados às culturas negras da cidade de Poço Fundo-MG, especialmente as congadas, folias de reis, escolas de samba, benzedeiras e sujeitos negros(as) do município. Objetiva-se com esse acervo a produção de documentários em curta-metragem. O projeto será realizado em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura de Poço Fundo. Buscaremos, de maneira articulada ao Programa Laboratório de História Pública, desenvolver a formação necessária para a promoção do conhecimento histórico por meio de ações coletivas em conjunto com grupos que são ocultados e silenciados da “história oficial” do município. Todo o acervo a ser produzido poderá ser utilizado como material didático-pedagógico pelos(as) docentes do ensino básico. Em função da pandemia, o projeto será realizado de maneira remota, com a possibilidade de realização de entrevistas audiovisuais online.

Objetivos
- Capacitar e fomentar os estudantes de graduação da Unifal-MG para projetos com práticas da história pública e de entrevistas orais e audiovisuais, por meio dos esforços colaborativos entre os estudantes do curso de História e a comunidade envolvida no projeto, especialmente os grupos da cultura negra e a Secretaria de Cultura de Poço Fundo. - Criar subsídios, materiais e estratégias para a construção de materiais didáticos-pedagógicos sobre as culturas negras de Poço Fundo e dos sujeitos negros e negras, especialmente voltados para a reeducação das relações étnico-raciais em consonância com as leis n° 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornaram obrigatórios o ensino de história africana, afro-brasileira e indígenas nas escolas brasileiras. - Favorecer a institucionalização do Laboratório de História Pública em parceria com o Laboratório do Ensino de História da UNIFAL-MG com estrutura, instalações e recursos humanos análogos aos de seus congêneres em outras IFES brasileiras. - Estabelecer parcerias com agentes externos à Universidade e da região sul-mineira, como a Secretaria de Educação e Cultura de Poço Fundo e os grupos populares negros da região.

Justificativa
Esse projeto de extensão integra o programa Laboratório de História Pública da UNIFAL-MG, e tem o intuito de abrir as portas da universidade e romper seus muros, reconhecendo o que Marta Rovai e Juniele Almeida afirmam sobre a importância da história pública em “valorizar o passado para além da academia (...) sem perder a seriedade ou o poder de análise. A história pública pode ser definida como um ato de abrir portas e não de construir muros.” (ALMEIDA, ROVAI, 2011). A justificativa se faz no sentido de compartilhar ainda mais um encontro de saberes na Universidade e propiciar um espaço de experimentação no ensino e pesquisa que beneficie todos os envolvidos – estudantes da graduação e pós-graduação, detentores dos patrimônios imateriais negros de Poço Fundo e região, professores e professoras da educação básica e demais membros da comunidade local e regional. Desse modo, o trabalho colaborativo e as parcerias com os grupos populares, a Secretaria de Educação e Cultura do município de Poço Fundo e os estudantes do curso de História se farão no sentido de desenvolver as práticas da história pública, alicerçadas pelos debates centrais do campo do patrimônio. As discussões sobre uma produção de conhecimento acerca do passado de forma mais próxima às demandas públicas se articulam também a questões relacionadas ao patrimônio na contemporaneidade. A política patrimonial, estabelecendo como e o que deve ser preservado e lembrado, envolve também disputas de poder e jogos de dominação. Pensar em um modelo ativo e dialógico de patrimônio e trabalhá-lo como algo que emerge da relação entre pessoas, objetos, lugares e práticas é algo importante nessa perspectiva (CHOAY, 2011; HARRISON, 2013). Além do campo do patrimônio, o conceito de autoridade compartilhada, desenvolvido por Michael Frisch no âmbito da história oral, é um importante ponto de contato com a história pública e a perspectiva de história e patrimônio que embasa esse projeto. Portanto, através do entrelace entre a história oral e a história pública é possível buscar ferramentas e estratégias para a ampliação e democratização do acesso ao conhecimento histórico, por meio de práticas e reflexões teórico-metodológicas importantes advindas desses dois campos e produzir, em parceria com os públicos e a comunidade em geral, as produções científicas que estimulem o que Jörn Rüsen, Sara Albieri e Luiz Fernando Cerri conceituam como “consciência histórica” (RÜSEN, 2010, ALBIERI, 2011; CERRI, 2010) para um público não acadêmico e amplo. Desse modo, justifica-se também a construção desse acervo pois o mesmo permitirá que materiais e propostas didáticas sejam disponibilizadas aos professores e estudantes da cidade e região, que fomentem as estratégias da reeducação das relações étnico-raciais, em cumprimento da lei n° 10.639/2003 (alterada para a n° 11.645/2008) que tornou obrigatório o ensino de história da África, dos afro-brasileiros e indígenas nas escolas brasileiras. Como apontado por Giovana Xavier (XAVIER, 2013), existe um silenciamento nos livros didáticos da história dos negros especialmente no período das emancipações e o pós-abolição. Em se tratando do tema das culturas negras, em geral, esse conteúdo no ensino básico está ligado às comemorações do dia do folclore, 22 de agosto e, em algumas escolas, ao dia da consciência negra, 20 de novembro. Sobre esse aspecto, Verena Alberti (2013) afirma que deve-se evitar confinar o estudo da história das relações raciais a nichos no currículo limitando-o a momentos do ano letivo. O tema da História e da Cultura Afro-brasileira deve ser incorporado ao projeto político pedagógico das instituições de ensino e trabalhado ao longo do ano letivo e para que isso aconteça, é necessária uma junção de medidas, como a disponibilidade de materiais didáticos que relacionem às temáticas da história local, do ensino de História e da educação antirracista. Portanto, esse projeto interliga importantes campos e áreas de pesquisa e estudos. A construção do acervo propiciará que sujeitos negros e negras ligados às culturas populares de Poço Fundo possam narrar suas próprias memórias e histórias e essas possam ser divulgadas e reconhecidas como narrativas de constituição do país.

Beneficiário
Estudantes e professores(as) da rede básica pública municipal, graduandos(as) do curso de História, detentores dos patrimônios, profissionais de instituições de memória e comunidade em geral.