CICLO DE FORMAÇÃO INTERDISCIPLINAR NO CURRÍCULO ESCOLAR

Apresentação
Neste ciclo de formação, será discutida a interdisciplinaridade nos currículos escolares, concebendo as contribuições entre as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Este ciclo de formação é uma ação que configura-se como desdobramento do projeto de extensão “(F)Atos da linguagem: entre a lógica e a linguística”, o qual busca trabalhar a interdisciplinaridade promovida pela Olimpíada Brasileira de Linguística em escolas parceiras de Varginha. Assim, compreendendo a extensão universitária como um aspecto de construção dialógica, os professores de Língua Portuguesa e Matemática das escolas parceiras do projeto irão proferir palestras mensais discutindo o tema proposto para este ciclo de formação. Dessa maneira, como resultado, esperamos contribuir para a formação acadêmica dos alunos participantes do projeto, estimular a interdisciplinaridade entre a comunidade escolar parceira do referido projeto e proporcionar formação continuada a outros professores da rede pública de ensino.

Objetivos
Especificamente, objetivamos: (i) promover espaço de formação aos alunos extensionistas do referido projeto; (ii) reflexão sobre a interdisciplinaridade proposta pelos órgãos reguladores de ensino básico e superior no Brasil; (iii) aumentar a compreensão sobre a extensão universitária, entendendo os parceiros como colaboradores na construção do conhecimento; (iv) promover formação continuada entre professores da rede pública de ensino básico de Varginha-MG.

Justificativa
É possível perceber que, ao longo dos anos, as disciplinas dos currículos escolares foram formatadas para se configurarem como estanques umas das outras, na tentativa de preservar identidade, autonomia e os próprios objetivos de cada uma delas. A partir dessa perspectiva, é difícil para o estudante compreender se há possíveis inter relações entre disciplinas e conteúdos trabalhados em Língua Portuguesa (LP) e Matemática, por exemplo. Perceber a língua como um sistema de possibilidades previsíveis dentro daquilo que os próprios falantes desse sistema acordam como o usual para dadas situações comunicativas perpassa, em certa medida, pelo raciocínio lógico. E por conta disso que um alguém que não conhece a LP, observando o sistema ortográfico da língua, poderia afirmar que antes de “p” e “b” deve-se usar “m” e não “n”, como a escolha alfabética (gráfica) do som nasal, abstendo-se, momentaneamente, das regras fonéticas e fonológicas num primeiro momento. Quando colocado à luz da realidade além dos muros escolares, a interdisciplinaridade é algo que ocorre no dia a dia de qualquer pessoa. Dessa maneira, desde 2004, o Ministério da Educação tem incentivado que os currículos escolares possam ser pensados de maneira inter e multidisciplinar. Especificamente para o Ensino Médio, a proposta pedagógica para esse nível de ensino é que o contexto do mundo do trabalho e o exercício da cidadania devam ser centrais nos conteúdos curriculares. Com base nesses aspectos, nosso objetivo neste projeto é promover de maneira interdisciplinar o raciocínio lógico-indutivo na observação de fenômenos da linguagem. Para tanto, usaremos como ponto de partida os problemas que são propostos pela Olimpíada Brasileira de Linguística (OBL), já que, além de uma ferramenta de popularização do conhecimento acadêmico (logo, de Divulgação Científica), promove a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problema, fazendo com que o estudante proponha possíveis resoluções com base na lógica-indutiva, mesmo sem ter conhecimento técnico-científico do idioma e do fenômeno linguístico que estão sendo abordados no problema. A OBL, fundada em 2011, busca introduzir problemas linguísticos inteiramente novos e não-familiares, exigindo dos estudantes um intenso trabalho lógico para montar estruturas implícitas por meio de padrões observáveis a partir de dados iniciais. Tal estratégia distingue-se das olimpíadas tradicionais, já que elas esperam que os alunos tenham domínio sobre ideias e conteúdos previamente estudados, não se caracterizando como metodologia ativa (BORGES et al, 2014). A resolução dos problemas na OBL é análoga ao trabalho de um linguista de campo ao descrever os padrões de uma língua desconhecida. Além de servir atualmente como ferramenta de DC, a OBL tem servido como instrumento de facilitar o acesso do estudante do Ensino Médio ao Ensino Superior. Algumas universidades públicas (como a Universidade Federal de Itajubá, Universidade de São Paulo e Universidade Estadual de Campinas) têm utilizado a nota que os alunos obtêm na OBL somada às notas de seus respectivos processos seletivos (Enem ou vestibulares próprios). Como resultado, tem-se a valorização e promoção do trabalho interdisciplinar por meio desta olimpíada de conhecimento, bem como uma tentativa de mitigar desigualdades sociais que acometem, sobretudo, estudantes de baixa renda, público majoritariamente atendido pelas escolas públicas e, consequentemente, mais participantes em eventos dessa natureza. Salienta-se também que a promoção de metodologias ativas e a interdisciplinaridade entre disciplinas e conteúdos curriculares promove a autonomia do aluno frente os processos de ensino-aprendizagem. Esse fator é bastante relevante especialmente no momento atual de pandemia COVID-19, em que os alunos estão estudando remotamente em suas casas, com diversas limitações de acompanhamento nos estudos, bem como ferramentas adequadas para continuarem suas atividades. Assim, a utilização da metodologia adotada neste projeto, atrelada a um instrumento que promove o aprendizado pelo desafio e pela ludicidade tornará o aprendizado autônomo muito mais prazeroso e possível. Por fim, destaca-se que no município de Varginha ainda não há adesão à OBL por não ter ainda sido divulgada no município, ainda que os professores das instituições de ensino saibam da existência da olimpíada. Isso se deve ao fato, por vezes, pelo pouco espaço que os estudos da linguagem atrelados à lógica possuem no conteúdo programático dos currículos escolares, o que ainda reflete a pouca exploração da interdisciplinaridade aqui pretendida.

Beneficiário
Como beneficiários temos alunos, professores e colaboradores do ensino médio da rede pública de ensino de Varginha-MG, discentes universitários regularmente matriculados no BICE, além de professores, diretores e coordenadores pedagógicos da UNIFAL-MG.