AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E AMBIENTAL DAS LEISHMANIOSES NO PLANALTO DE POÇOS DE CALDAS/MG - INVESTIGAÇÃO ENTOMOLÓGICA E CORRELAÇÕES AMBIENTAIS INFLUENCIÁVEIS NA POPULAÇÃO DE FLEBOTOMÍNEOS.

Apresentação
As leishmanioses são parasitoses que em suas etiologias participam várias espécies do gênero Leishmania, cujo parasitismo pode levar a manifestações clínicas nas formas visceral, tegumentar e mucocutânea em hospedeiros de diversos grupos de mamíferos, sendo transmitidas por flebotomíneos, dípteros da família Psychodidae. Nas Américas, atuam como agente etiológico na forma visceral a Leishmania (Leishmania) chagasi e nas formas dermatotrópicas humanas, pelo menos, 11 espécies. O presente Projeto vem disponibilizar ao município de Poços de Caldas uma parceria na vigilância dessas enfermidades de notificação obrigatória, as leishmanioses, e que têm sido negligenciadas nas áreas de baixa endemicidade. Entretanto, municípios vizinhos e próximos, mesmo no estado de São Paulo, já apresentam aumento nos números de notificações de casos autóctones, onde há pouco tempo não eram notificados.

Objetivos
1)- Capturar e Identificar as espécies de flebotomíneos presentes nas áreas ou localidades dos municípios a serem estudados; 2)- Caracterizar a distribuição sazonal das principais espécies de flebotomíneos capturados nas áreas de estudo, pelo menos em um período de 12 meses de amostragens/capturas; 3)- Caracterização das condições ambientais e climáticas nos pontos de amostragem, tais como: tipo de solo, vegetação, temperatura, pluviosidade, oferta de alimentos para as fêmeas hematófagas, durante todo o período de amostragem/captura dos insetos; 4)- Georeferenciar os pontos e locais de amostragem/captura na investigação entomológica, para possíveis correlações entre as características ambientais e climáticas; 5)- Avaliar a situação atual dos casos de leishmanioses, por meio da determinação do Coeficiente de Incidência Acumulada nos municípios de Poços de Caldas e do seu entorno no Planalto de Poços de Caldas; 6)- Realizar estudo pormenorizado de investigação epidemiológica dos casos notificados, para se definir a autoctonia ou, nos casos importados, o local de origem dos mesmos. 7)- Articular e propor um calendário de treinamento e capacitação para profissionais da área de saúde pública, voltados para captura e identificação dos flebotomíneos, para o esclarecimento da suspeita clínica, nos casos de leishmaniose humana e canina, e para encaminhamentos diagnósticos.

Justificativa
Tendo em vista as dificuldades de controle da doença, a metodologia proposta, para a vigilância e adoção de medidas, baseia-se em uma melhor definição das áreas de transmissão ou de risco. O novo enfoque é o de incorporar os estados e municípios silenciosos, ou seja, sem ocorrência de casos humanos ou caninos da doença, nas ações de vigilância da mesma, visando assim evitar ou minimizar os problemas referentes a este agravo em áreas sem transmissão. Nas áreas com transmissão de LV, após estratificação epidemiológica, as medidas de controle serão distintas e adequadas para cada área a ser trabalhada. Entretanto, é de fundamental importância que as medidas usualmente empregadas no controle da doença sejam realizadas de forma integrada, para que possam ser efetivas. (Brasil, 2006) A leishmaniose tegumentar tem ampla distribuição mundial e no Continente Americano há registro de casos desde o extremo sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, com exceção do Chile e Uruguai. (Brasil, 2006) No Brasil, Moreira (1895) identificou pela primeira vez a existência do botão endêmico dos países quentes, chamando “Botão da Bahia” ou “Botão de Biskra”. A confirmação de formas de leishmanias em úlceras cutâneas e nasobucofaríngeas ocorreu no ano de 1909, quando Lindenberg encontrou o parasito em indivíduos que trabalhavam em áreas de desmatamentos na construção de rodovias no interior de São Paulo. Splendore (1911) diagnosticou a forma mucosa da doença e Gaspar Vianna deu ao parasito o nome de Leishmania brazilienses. No ano de 1922, Aragão, pela primeira vez, demonstrou o papel do flebotomíneo na transmissão da leishmaniose tegumentar e Forattini (1958) encontrou roedores silvestres parasitados em áreas florestais do Estado de São Paulo. Desde então, a transmissão da doença vem sendo descrita em vários municípios de todas as unidades federadas (UF). Nas últimas décadas, as análises epidemiológicas da leishmaniose tegumentar americana (LTA) têm sugerido mudanças no padrão de transmissão da doença, inicialmente considerada zoonoses de animais silvestres, que acometia ocasionalmente pessoas em contato com as florestas. Posteriormente, a doença começou a ocorrer em zonas rurais, já praticamente desmatadas, e em regiões periurbanas. Observa-se existência de três perfis epidemiológicos: a) Silvestre – em que ocorre a transmissão em áreas de vegetação primária (zoonose de animais silvestres); b) Ocupacional ou lazer – em que a transmissão está associada à exploração desordenada da floresta e derrubada de matas para construção de estradas, extração de madeira, desenvolvimento de atividades agropecuárias, ecoturismo; (antropozoonose) e c) Rural ou periurbana – em áreas de colonização (zoonose de matas residuais) ou periurbana, em que houve adaptação do vetor ao peridomicílio (zoonose de matas residuais e/ou antropozoonose). (Brasil, 2006) No Brasil, a LTA é uma doença com diversidade de agentes, de reservatórios e de vetores (flebotomíneos), que apresenta diferentes padrões de transmissão e um conhecimento ainda limitado sobre alguns aspectos, o que a torna de difícil controle. Os flebotomíneos constituem um grupo de insetos de origem antiga, com registros fósseis datando de cerca de 120 milhões de anos (HENNIG, 1972). Estão distribuídos por todos os continentes, sendo descritas no mundo aproximadamente 800 espécies, das quais, 470 ocorrem nas Américas e metade delas no Brasil (GALATI 2003). A distribuição dos flebotomíneos nas Américas se estende desde o sul do Canadá até o sudeste da Argentina (MARTINS e MORALES-FARIAS 1972; MUZÓN et al. 2002). Algumas espécies apresentam ampla distribuição geográfica, outras são mais restritas a uma região, com distribuição local e até mesmo focal (REBÊLO et al. 1996). No Brasil, os flebotomíneos ocorrem em todos os Estados (MARTINS et al. 1978; YOUNG e DUNCAN 1994). Sendo popularmente denominados como asa branca, birigui, cangalhinha, flebótomo (ou fleboti), mosquito-palha e tatuquira (FORATTINI 1973). Essa variedade de nomes populares mostra como um leigo pode distinguí-los de outros insetos hematófagos. Sendo assim, visando-se o conhecimento da fauna flebotomínica na área de estudo pode-se definir as medidas de prevenção e controle, justificando uma parceria entre a Universidade e vigilância municipal.

Beneficiário
Para o município o Projeto poderá promover capacitação e treinamento de agentes e gestores de saúde em leishmanioses, bem como a Universidade poderá produzir dados e gerar produção acadêmica e científica, beneficiando sobre maneira a comunidade, na prevenção e controle de agravos de importância.