QUE PAÍS É ESSE? CONHECENDO O BRASIL ATRAVÉS DA MÚSICA

Apresentação
No segundo semestre de 2018, o Bacharelado Interdisciplinar de Ciência e Economia ofereceu como optativa da Administração Pública a disciplina Cultura Brasileira. A disciplina, ministrada por mim, teve como principal objetivo discutir o tema da cultura em geral e da cultura brasileira em particular, sob a ótica interdisciplinar de duas ciências: a sociologia e a antropologia. Ao longo do semestre, buscamos mapear os debates sobre identidade, diversidade, nacionalidade, racismo e cidadania, com vistas a desvelar as tramas socioculturais do país, para além do imaginário corrente do senso comum. Foi então que nasceu a ideia de levar para as aulas canções populares que falassem do Brasil, e que pudessem se conectar com o conteúdo dos livros e textos dos grandes intérpretes de nossa cultura. Essa exposição foi pensada e organizada para dar sentido social, histórico e estético a canções escolhidas pelos estudantes sobre esse tema.

Objetivos
Preenchimento não necessário

Justificativa
Muitos intelectuais têm sido desafiados a compreender os processos políticos e históricos que têm constituído o Brasil no atual contexto histórico. Um conjunto deles tem avaliado que o país representa, hoje, um território de experimentação para novos caminhos do capitalismo em crise. Nesse experimento, um neoliberalismo renovado é associado ao conservadorismo moral e ao "anti-intelectualismo" (negação do conhecimento científico e filosófico) que, juntos, apontam para o fortalecimento do capitalismo financeiro. Se o ensaio galgar sucesso, afirmam, ele poderá ser repetido em países periféricos e centrais em curto e médio prazo. Historicamente, é possível afirmar que políticas econômicas que prejudicam a maior parte da população só conseguem ser implementadas se houver algum tipo de aprovação social. Por este motivo, ao mesmo tempo em que os últimos governos brasileiros têm elaborado políticas econômicas antipopulares, voltadas para a retirada de direitos sociais [e políticos], uma “onda conservadora”, baseada em princípios morais de despolitização ou negação da política, tem buscado, em última instância, a produção de um consenso social em torno do fim da solidariedade social. Sendo assim, a produção de ideias moralmente orientadas sobre a realidade está no centro da construção de um pensamento coletivo contra mulheres, negros, LGBTTs, pobres e outras minorias sociais, assim como contra organizações políticas e movimentos sociais, juízos morais esses consolidados ao mesmo tempo em que os governos propõem fim de uma série de direitos trabalhistas, do Sistema Único de Saúde, da Previdência Pública, das universidades, institutos e escolas federais. Nos últimos tempos, a produção e a propagação dessas ideias, contrárias às minorias, estabeleceram, propositadamente, um emaranhado confuso de concepções de mundo que expressam visões desconexas sobre a realidade e contraditórias em relação à experiência material própria dos sujeitos. Dessa forma, se a atual conjuntura pode estar deveras complexa para a compreensão de analistas políticos, sociólogos e economistas, ela tende a revelar-se como realidade ainda mais obscura para trabalhadores, jovens e o elemento popular em geral. Por este motivo, a proposta da exposição é auxiliar a comunidade acadêmica e a comunidade externa a pensar as estruturas sociais e a dinâmica da história política do país, mediadas pelo conteúdo lúdico das canções brasileiras. Para tanto, a exposição propõe pensar o Brasil através de um conjunto delimitado de canções, escolhido pelos alunos e alunas da disciplina Cultura Brasileira. A exposição é composta por duas dimensões diferentes. A primeira apresentará canções cujas letras, movimentos culturais ou estilos auxiliaram, no passado, a consolidação de uma dada ordem política, às vezes autoritária, desigual ou discriminatória. Nesse caso, as canções que compõem essa dimensão fortaleceram a reprodução da objetivação da mulher negra; contribuíram para consolidar um mito do Estado-nação; auxiliaram a produção de um clima social favorável a reformas políticas na Era Vargas; espalharam a lógica da modernização pelo consumo e exaltaram o governo ditatorial militar dos anos 60 e 70. A outra dimensão, que está mais diretamente vinculada às escolhas feitas pelos/as estudantes, trata do homem rural, do pensamento das massas, da exclusão dos negros e negras das periferias, da injustiça social, do feminicídio, da educação que reforça as desigualdades sociais. Esses dois "Brasis" – o “oficial” e o “periférico” – configuram a dialética do entendimento do país, e é através dessa dialética que buscaremos provocar o pensamento crítico, com vistas a formar sujeitos mais preparados para entender e mudar a realidade.

Beneficiário
Comunidade Acadêmica de Varginha, Alfenas e Poços de Caldas. Comunidade Externa: escolas de ensino fundamental e médio, escolas de música, movimentos sociais.