DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO (DRP): FOMENTANDO EXPERIÊNCIAS AGROECOLÓGICAS EM CALDAS-MG

Apresentação
O Brasil se tornou, nos últimos anos, o líder mundial de consumo de agrotóxicos e faz uso excessivo de venenos aplicados às lavouras desde os anos 1970, quando se consolidou o atual modelo do agronegócio, baseado na Revolução Verde. Isso gerou diversos problemas: por um lado, os agricultores se tornaram reféns deste modelo produtivo, controlado pelas empresas transnacionais; por outro, a expansão do uso de agrotóxicos, trouxe consigo a contaminação da vida, prejudicando tanto a saúde dos trabalhadores que manipulam diretamente os agrotóxicos, quanto os consumidores que se alimentam de produtos contaminados. Como reação a esse cenário, diversas experiências têm surgido no sentido de apresentar alternativas de produção de alimentos de forma sustentável, em especial em áreas com histórico de degradação, mas potencial de produção, como é o caso do município de Caldas, no Sul de Minas Gerais, área de abrangência da UNIFAL e do IFSULDEMINAS.

Objetivos
1) Conhecer a realidade produtiva dos agricultores integrantes do Programa, tanto os certificados como os em transição agroecológica; 2) Implementar as técnicas do DRPA visando um planejamento das atividades do grupo; 3) Articular os agricultores visando uma melhor escala produtiva e inserção nos mercados orgânicos e agroecológico da região; 4) Formular planos estratégicos com foco no desenvolvimento local das comunidades rurais envolvidas; 5) Preparar os alunos do IFSULDEMINAS e da UNIFAL em técnicas de DRPA e de organização dos agricultores; 6) Aprimorar esta experiência para aplicação em outras comunidades na região.

Justificativa
Considerando a amplitude dos agravos à saúde e ao meio ambiente provocados pelo uso de agrotóxicos na agricultura brasileira, faz-se necessário um processo de conscientização e sensibilização da população na região quanto aos riscos do uso de agrotóxicos e do consumo de alimentos contaminados por esses agentes envenenadores da vida. Basta lembrar que na safra 2010-2011 no Brasil, foram plantados 71 milhões de hectares de lavoura temporária (soja, milho, cana, algodão) e permanente (café, cítricos, frutas, eucaliptos), o que corresponde a cerca de 853 milhões de litros (produtos formulados) de agrotóxicos pulverizados nessas lavouras, principalmente de herbicidas, fungicidas e inseticidas, representando média de uso de 12 litros/hectare e exposição média ambiental/ocupacional/alimentar de 4,5 litros de agrotóxicos por habitante (IBGE, 2019). Segundo dados do Censo Agropecuário 2017 IBGE (2019), o número de estabelecimentos que admitiam usar agrotóxicos aumentou 20,4% nos últimos 11 anos. De acordo com a pesquisa, 15,6% dos produtores que utilizam agrotóxicos não sabiam ler e escrever e, destes, 89% declararam não ter recebido qualquer tipo de orientação técnica. A prática de uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente e que ao mesmo tempo promova a inclusão social e a melhoria das condições econômicas e sociais de quem trabalha no campo deve ser avaliada, considerada e valorizada pela sociedade. Segundo Caporal e Costabeber (2004) há muito tempo os homens vêm buscando estilos de agricultura mais sustentáveis, capazes de proteger os recursos naturais e que sejam duráveis no tempo, tentando assim fugir do estilo convencional que passou a ser hegemônico desde o início do século XX. Em consequência desta busca surgiram vários modelos alternativos de agricultura, como o orgânico, o natural, o ecológico, o biodinâmico, dentre outros. No entanto, estes modelos não conseguiram dar respostas para os problemas socioambientais que se acumularam, resultantes do modelo convencional praticados. Nasceu então a Agroecologia, uma agricultura de base sustentável, com um novo enfoque científico, com condições de dar suporte a uma transição de estilos de agriculturas sustentáveis (CAPORAL e COSTABEBER, 2000) e contribuir para o estabelecimento de processos de desenvolvimento rural sustentável (CAPORAL e COSTABEBER, 2004). As práticas agroecológicas podem ser vistas como formas de resistência da agricultura camponesa, perante o processo de exclusão no meio rural e de homogeneização das paisagens de cultivo. Conforme Gliessman (2005) e Caporal (2009), estas práticas se baseiam em estabelecimentos ou empreendimentos de áreas pequenas, na força de trabalho familiar, em sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados às condições locais e ligados às redes regionais de produção e distribuição de alimentos, para assim garantir a demanda local. Arroyo e Fernandes (1999) afirmaram que, de fato, a agricultura camponesa é um setor importante para o desenvolvimento econômico local, gerando emprego, renda e segurança alimentar. Desta forma, a agroecologia tem grande importância na contribuição econômica, social e ambiental, mantendo a equidade social no campo e a oferta adequada de produtos seguros e acessíveis, proporcionando uma melhor qualidade de vida às pessoas, produtores e consumidores e integrando a produção agrícola com o respeito e a conservação da natureza. Neste contexto, estimular e incentivar os produtores/agricultores do município de Caldas-MG para a produção agroecológica é de fundamental importância, especialmente em função das características da região garantindo assim a defesa, conservação, preservação e recuperação do meio ambiente, da biodiversidade, do patrimônio paisagístico natural e cultural. As parcerias para a realização desta proposta são necessárias. Elas suprem as demandas por meio de diferentes formações e contribuições. O suporte científico de professores e profissionais ligados às Ciências Sociais, Geografia, Agroecologia, Agronomia, Saúde do trabalhador, Epidemiologia, Nutrição, Medicina social, entre outros conteúdos corrobora para a constituição de uma equipe qualificada e multiprofissional. Assim, a parceria e integração da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e o INSTITUTO FEDERAL DO SUL DE MINAS (IFSULDEMINAS) torna-se necessária para a execução deste projeto.

Beneficiário
Agricultores e agricultoras, consumidores, comunidade local, professores, estudantes e cidadãos de Caldas e região