RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação
No Brasil por conta de nossa situação histórica, ainda precisamos desconstruir muitos discursos que ainda legitimam ações que levam a atitudes de preconceito e discriminação e que consequentemente geram desigualdade de acesso e oportunidades no mercado de trabalho, na escola e nas relações sociais. Nesse sentido, tomando como arena as instituições de educação infantil, a proposta do presente curso é possibilitar aos profissionais que trabalham nesta etapa da educação básica conhecimentos necessários para o trabalho envolvendo a questão étnico-racial junto às crianças desde a mais tenra idade.

Objetivos
Com o desenvolvimento do projeto pretende-se como objetivos específicos: Formar professores a partir de uma educação para as relações étnico-raciais; Construir material didático-pedagógico que contemple a diversidade étnico-racial a partir de uma educação anti-racista; Propor metodologias ativas que a partir da música, brincadeira, dança e arte possam tratar sobre a diversidade étnico-racial e contribuir para a desconstrução de estereótipos e para a valorização dos saberes da cultura afro-brasileira e africana visando o combate ao racismo e ao preconceito.

Justificativa
Historicamente as crianças são apresentadas como seres desprovidos de “fala”, nesse sentido, são sempre os adultos que dizem sobre elas, no entanto, dessa história contada, falou-se desde o princípio, de uma criança genérica, universal, branca, e europeia, sendo assim, a própria história da infância reflete uma discriminação quanto às crianças negras. A criança negra foi triplamente excluída pela sua condição infantil, pela sua condição infantil (enquanto ‘menor’), social (enquanto pobre) e pela sua raça/etnia (enquanto negra). A socialização da criança negra é perpassada pelo seu pertencimento étnico-racial e que incide historicamente e reverbera até os dias de hoje na educação desta criança. As pesquisas sobre relações raciais que abordaram a questão da criança negra no espaço escolar em sua grande maioria apresentam-na com problemas de relacionamento com seus colegas e professores ocasionados pela cor, gerando uma relação conflituosa e muitas vezes, nociva para os que acabam sendo rejeitados por seus atributos físicos. E mesmo na faixa etária a partir de quatro anos de idade, as pesquisas na área de educação infantil já apontam a existência da problemática racial entre crianças e adultos. Os adultos geralmente apresentam um comportamento de silêncio em relação às questões raciais ocorridas na relação diária com as crianças e também acabam utilizando práticas cotidianas que podem até mesmo reforçar o racismo. Assim, a socialização que se inicia na família e se amplia com o convívio escolar, ao invés de ser uma experiência positiva no desenvolvimento da criança negra, acaba sendo um fator negativo na constituição de sua auto-imagem. E o silêncio que envolve a questão racial nas diversas instituições sociais favorece que se entenda a diferença como desigualdade. Neste sentido, de acordo com Barbosa (2007, p.1076) “desde as escolas missionárias, a educação brasileira foi destinada a ‘civilizar’ a população, isto é, a ensiná-la a negar-se como índio, como negro, como mulher, como criança para tornar-se outro”. No caso específico da criança negra no seu processo de socialização na instituição escolar, ‘tornar-se civilizada’ significa ‘branquear-se’. A ideologia do branqueamento se efetiva “no momento em que, internalizando uma imagem negativa de si próprio e uma imagem positiva do outro, o indivíduo estigmatizado tende a se rejeitar, a não se estimar e a procurar aproximar-se em tudo do indivíduo estereotipado positivamente e dos seus valores tidos como bons e perfeitos” (Silva, 2000:16). Desta forma, “as crianças de grupos étnicos diferenciados percebem quando são desqualificadas, adquirindo, assim, uma concepção coletiva de sua etnia a partir do estigma que lhe é atribuído. No caso das crianças negras, as suas características raciais (tom de pele, nariz achatado, cabelos encarapinhados) são consideradas feias e elas introjetam a inferioridade. Em sua concepção, ser negro, é ser feio” (SILVA, 1995, p.68). Torna-se desejável, então, querer ser branco, já que o ideal é branco. Assim, a constituição da identidade do ser humano como expressão de grupos e categorias sociais, está de acordo com Pereira (1987) indissoluvelmente ligada ao processo de socialização que abrange desde o adestramento técnico dos alunos para atender demandas da estrutura social, como também, o inculcamento de valores que dão os referenciais de sua visão de mundo e da sua própria imagem ou auto-representação. Isso ocorre com todos os membros da população, inclusive com o negro que está submetido a esse mecanismo “construtor, definidor e manipulador de identidades” (ibid, p.42). Isso acaba favorecendo segundo Pereira (1987) que a identidade negra seja algo deteriorado e fragmentado criando a imagem que o autor denominou “negro dividido” e que tem como significado um indivíduo ambivalente em termos de sua origem, de sua classe, de sua tonalidade de cor, e, acima de tudo, em termos de dois pólos a atraí-lo por diferentes razões: o mundo dos negros e o mundo dos brancos” (ibid, p.43). Assim, a identidade é constituída a partir de vários pertencimentos, ou seja, identidades plurais. É preciso ressaltar ainda que as professoras também são subjetivadas a partir de um modelo que também as desqualifica como profissionais e designa uma formação menor e superficial para trabalhar com crianças pequenas. Desta forma, os professores necessitam escapar da ordem hegemônica produtora de desejos, estéticas, para realizar práticas educativas que acolham e produzam diferença, como estratégia pedagógica. Nesse sentido, segundo Pelbart (1993:24) “não basta reconhecer o direito às diferenças identitárias, com essa tolerância neoliberal tão em voga, mas caberia intensificar as diferenças, inicitá-las, criá-las, produzí-las. Recusar a homogeneização sutil, mas despótica em que caímos às vezes, sem querer, nos dispositivos que montamos quando os subordinamos a um modelo único ou a uma dimensão predominante”. Cada um tem como marca a sua “estrangeirice”, então, se fa

Beneficiário
Profissionais da educação infantil