REESCRITURAS

Apresentação
O projeto de extensão "Reescrituras" tem como objetivo a promoção de clubes de leitura, rodas de conversa e oficinas de escrita criativa em diferentes espaços socioculturais, pertencentes à Universidade Federal de Alfenas e à comunidade em seu entorno. Tendo em mente uma definição expandida de literatura - uma que inclui textos literários, cinema, teatro, música, fotografia, além das diversas mídias -, partimos de leituras para reescrituras, buscando fomentar a produção artística e científica dentro e fora da universidade e estimular o surgimento de espaços de diálogo, escuta e troca de experiências, saberes e reflexões.

Objetivos
1. Promover a produção artística na Unifal e na comunidade em seu entorno. 2. Encorajar a leitura de textos literários e a reflexão sobre esses materiais em constante diálogo com as vivências particulares dos participantes das ações, valorizando seus saberes e desierarquizando a produção do conhecimento. 3. Relacionar produções artísticas com seus contextos de produção e fomentar, assim, reflexões críticas sobre a nossa sociedade. 4. Estabelecer interlocuções entre textos teóricos e críticos e os materiais artísticos que serão analisados ao longo das oficinas, das rodas de conversa e dos círculos literários. 5. Criar espaços de trocas de opiniões, experiências e reflexões a respeito de temas como cultura, literatura, artes e linguagens, visando à formação de cidadãos críticos. 6. Abrir espaços diferenciados de formação docente para os graduandos da Unifal dos cursos de Letras. 7. Produzir pesquisa, reflexão e diálogo acadêmico a partir das ações propostas pelo projeto.

Justificativa
Entendemos que, na contemporaneidade, com a ampliação das possibilidades de acesso à internet e a popularização das redes sociais, nossas práticas sociais de escrita e leitura, assim como de produção e recepção de conteúdo (inclusive artístico) se transformaram. Se a leitura (assim como a escuta) nunca foi uma habilidade receptiva - premissa que baseia questionamentos da linguística aplicada sobre a distinção feita pela metodologia comunicativa entre habilidades receptivas e produtivas de uma língua -, a distinção entre a produção e a recepção de informações se complica ainda mais frente ao uso das mídias digitais, espaços onde recebemos e produzimos conteúdo de forma constante. Para o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, frente a essas mudanças nas condições de criação e distribuição, precisamos repensar "o estatuto da noção de criação, não para dizer que não é mais possível criação, mas para redefini-la de uma maneira criativa, digamos assim". E ele segue: Temos que criar um novo conceito de criação. Trabalhamos atualmente com um conceito, por um lado, velho como o cristianismo (criação bíblica) e, por outro lado, com o do romantismo, a criação como manifestação, emanação de uma sensibilidade sui generis do indivíduo privilegiado. Esses dois modos de conceber a criação não dão mais conta do que está se processando nesse mundo atual. Está havendo tanta criação quanto havia antes, não creio que esteja havendo menos. O que houve foi uma mudança das condições. Mudaram as condições de criação, mudaram as condições de distribuição. (VIVEIROS DE CASTRO, 2008, p. 35) Apesar dos resultados controversos das novas condições de criação e distribuição de conteúdo - tais como o surgimento das fake news e seus usos pela nova extrema direita global -, elas também abrem oportunidades para que sujeitos silenciados (pelos mecanismos de produção e recepção que estavam em vigor até então) possam ser lidos e ouvidos. Quando, em 1972, Adrienne Rich discutia a importância, para as escritoras mulheres, de re-visar e reescrever o passado, e, em 1989, Bill Ashcroft, Gareth Griffith e Hellen Tiffin organizaram um volume sobre a contra-escrita do Império colonial, eles talvez não pudessem prever o espaço que essas vozes ocupariam hoje dentro do mercado editorial e da crítica literária. Vozes como a de Chimamanda Ngozi Adichie, que fala contra o perigo de uma história única: As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada. (ADICHIE, 2019, p.32) Dessa forma, este projeto se justifica pelo seu potencial de promoção de encontros e diálogos. Queremos criar espaços para o acesso, leitura e discussão e produção de textos, um espaço onde embates e conflitos sociais podem ser acolhidos e repensados construindo pontes entre pessoas através da literatura, um espaço para que novas histórias possam ser contadas, lidas, escritas e reescritas.

Beneficiário
Servidores e discentes da Unifal, estudantes da Escola Estadual Judith Vianna e internos do presídio de Alfenas, bem como outros interessados da comunidade externa e/ou resultantes de novas parcerias.