DIMENSÕES AFRICANAS NA HISTÓRIA PÚBLICA DIGITAL

Apresentação
Em 2025, o Projeto Dimensões Africanas tem como objetivo estudar os arquivos coloniais portugueses para levantar e catalogar fontes históricas e constituir a base de dados Fontes da História da Lunda. Para tanto, irá examinar os arquivos a partir do desenvolvimento de metodologias críticas de análise e com o uso de ferramentas digitais livres e de código aberto, como é o caso dos softwares Zotero e Omeka. Além disso, o projeto contará com a pareceria do PIBID História, no trabalho coletivo junto à comunidade escolar a partir de oficinas de análise de fontes e produção da base de dados. Esse conjunto de ações deve-se à intenção de contribuir com a pesquisa e o ensino de História da África e com a reflexão sobre o uso de tecnologias digitais nos ambientes acadêmicos e escolares, a partir de um movimento de Ciência Aberta e da História Pública Digital.

Objetivos
Pesquisar os arquivos coloniais portugueses para levantar, catalogar e estudar fontes históricas para constituir a base de dados Fontes da História da Lunda; Constituir a base de dados Fontes da História da Lunda em parceria com as escolas públicas de Alfenas, onde atua o PIBID História edição 2024-2026; Analisar criticamente os arquivos coloniais portugueses para descortinar dimensões africanas; Desenvolver metodologias de análise de fontes da história da Lunda e recursos de investigação (como a base de dados Fontes da História da Lunda) com o auxílio de ferramentas digitais livres e de código aberto e em colaboração com a comunidade escolar pública de Alfenas; Elaborar tipologias e vocabulários controlados na produção de base de dados Fontes para a História da Lunda, a partir dos conceitos de entidade e relacionamento, tomando o cuidado de não ratificar o processo colonial de produção de conhecimento; Utilizar as ferramentas digitais Zotero e Omeka para catalogar fontes históricas e divulgar estudos a seu respeito; Contribuir para o movimento de Ciência Aberta e de divulgação e implementação dos princípios FAIR, que pressupõem uma postura colaborativa e transparente com relação à produção de conhecimento científico numa época digital; Contribuir com o desenvolvimento da área de estudos de História Digital Pública no curso de História da UNIFAL-MG em parceria com o Programa Laboratório de História Pública; Produzir trabalhos de extensão junto com a comunidade escolar pública de Alfenas que articulem ensino, pesquisa e extensão a partir de disciplinas obrigatórias e eletivas/optativas do curso de História, das atividades do PIBID História 2024-2026 e das pesquisas do PPGHI; Divulgar todas as ações do projeto em eventos, artigos e livro acadêmicos.

Justificativa
Com mais de vinte anos da promulgação da Lei 10.639/03, não se coloca mais dúvida sobre a importância dos estudos sobre a história da África. Fruto de processos mais amplos, das lutas do movimento social negro (Gomes, 2017), mas também da abertura da historiografia para narrativas não eurocentradas e universalizantes (Feierman, 1993), o texto legal brasileiro demandou uma produção de conhecimento e de processos de ensino-aprendizagem que integrem e veiculem os conteúdos africanos cada vez menos generalizados e mais concentrados em regiões e temáticas específicas, visto que tratamos de populações que se espalham geograficamente por um imenso continente e em um período muito extenso de tempo. Portanto, são cada vez mais urgentes pesquisas que se debrucem sobre espaços africanos específicos. Este é o caso do estudo da região da Lunda. Espaço histórico, localizado na África Central e de viva interação com outras regiões africanas e além do continente. O seu estudo está “para nós, brasileiros, porque ajuda a explicar-nos” (Costa e Silva, 1996, p. 20). No levantamento realizado por Mary Karasch (2000, p. 481-496), eram do norte de Angola 19% dos escravizados do total de todas as áreas escravistas arroladas: as Áfricas Ocidental, Centro-ocidental e Oriental. Destes, 53% provinham ou eram identificados com as áreas lundaizadas, entre eles, os cassanjes, os molués, os matiavos e os lundes. O estudo sobre a região da Lunda é importante também, ainda concordando com Costa e Silva (1996, p. 20), por seu valor próprio. Porque pode nos ajudar a explicar parte do “grande continente que fica em nossa fronteira leste de onde veio a metade dos nossos antepassados. Não pode continuar o seu estudo afastado de nossos currículos, como se ela fosse matéria exótica”. Os muatiânvuas da Lunda estão tão próximos de nós quanto os antigos reis portugueses. Os estudos da Lunda contribuem ainda para gerar debates teóricos e historiográficos sobre seleção de temas, categorias e conceitos, por propiciar o levantamento e análise de fontes históricas com relativo ineditismo e potentes para o desenvolvimento de diferentes abordagens metodológicas e produção didática. Inegavelmente, tudo isso requer ainda para ser realizado, um empenho na formação inicial e continuada de professores pesquisadores. Desta forma, este projeto justifica-se por propor a articulação entre ensino, pesquisa e extensão apoiada na integração das ações desenvolvidas na pesquisa científica (nos âmbitos da iniciação científica na área de História e do mestrado profissional em História Ibérica), no ensino, junto às atividades desenvolvidas em parceria com o PIBID História edição 2024-2026, também coordenado pela autora do presente projeto, que existe desde o ano de 2012. As atividades em conjunto com o PIBID História, isto é, com discentes de graduação e professores e alunos das escolas parceiras, referem-se ao trabalho de análise e constituição da base de dados Fontes da História da Lunda A realização do presente projeto é possível e se justifica por nosso acesso aos arquivos e fontes com os quais pretendemos trabalhar. Dois deles são bases de dados disponíveis na internet: Diamang Digital (https://www.diamangdigital.net/index.php) e Memórias de África e do Oriente (http://memoria-africa.ua.pt/Home.aspx). Um terceiro é o espólio documental da Expedição Portuguesa ao Muatiânvua que foi fotografado por nós (aproximadamente dez mil imagens) no período do doutorado sanduíche realizado entre os anos de 2013 e 2015 (Santos, 2016). Por fim, contamos com o apoio do Núcleo de Tecnologia da UNIFAL-MG (NTI) que, no momento de redação da presente proposta, institucionalizou, por meio da instalação em seus servidores, o software livre e de código aberto Omeka, que servirá para a constituição e divulgação da base de dados Fontes da História da Lunda. O Omeka está registrado sob o domínio História Digital - Unifal-MG e disponível em: https://app.unifal-mg.edu.br/historiadigital/ Mesmo que digitais, os dados ainda contêm sua “materialidade”, uma vez que “ocupam espaço” em “servidores, cabos, antenas, hard disk drives, etc” (Brasil; Nascimento, 2022). Portanto, o apoio institucional é extremamente importante para assegurar a manutenção da base de dados e dos trabalhos correlatos a serem desenvolvidos. Outrossim, é preciso ainda justificar que a proposta de utilização de ferramentas digitais no presente projeto parte de um movimento - e procura contribuir com ele - constituído por princípios relacionados ao propósito de Ciência Aberta, que pressupõe seguir princípios de produção colaborativa e transparente, que seja encontrável, acessível, interoperável e reutilizável. A produção colaborativa e transparente pressupõe ainda produzir com o público externo, no nosso caso, o escolar, o que está conforme as diretrizes da extensão e com a História Pública Digital.

Beneficiário
Estudantes de História da UNIFAL-MG, comunidades escolares parceiras do PIBID História e comunidade externa usuária do site https://app.unifal-mg.edu.br/historiadigital/.