ESCRAVIDÃO, RACISMO E CAPITALISMO NO SUL DE MINAS: DAS ORIGENS AO PRESENTE

Apresentação
O projeto “Escravidão, racismo e capitalismo no sul de Minas: das origens ao presente” tem como objetivo sensibilizar professores e estudantes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para os aspectos mais profundos da escravidão e do capitalismo na produção e reprodução das múltiplas desigualdades associadas ao racismo que afetaram e ainda afetam a formação histórica e social do sul de Minas, particularmente Varginha. As intervenções ocorrerão em turmas selecionadas da Escola Estadual Coração de Jesus, da cidade de Varginha, ao longo de 2025, por meio de mural informativo, palestras, rodas de conversa, exibição e debate de material audiovisual e oficinas artísticas e de escrita. Também está prevista uma exposição conjunta sobre a história da escravidão em Varginha e suas conexões com a escravidão contemporânea no sul de Minas.

Objetivos
1. Permitir que docentes e discentes do ensino médio e do EJA, bem como público interessado, tenham acesso de forma mais sintética a pesquisas acadêmicas e atualizadas sobre a história da escravidão e do trabalho escravo contemporâneo na região. 2. Difundir a utilização de fontes históricas variadas da região (censos locais, inventários, escrituras de compra e venda de escravos e registros tributários sobre escravos, por exemplo) e relacionadas à escravidão, contribuindo tanto para o resgate da memória local quanto para a conscientização histórica do tema. 3. Apresentar a especificidade da escravidão contemporânea, sua tipificação jurídica no Brasil, dados sobre setores econômicos que utilizam essa força de trabalho, estatísticas sobre trabalhadores resgatados no sul de Minas Gerais. 4. Apresentar a relação entre escravidão contemporânea, funcionamento do capitalismo e racismo. 5. Proporcionar aos estudantes, especialmente os do EJA, condições para que consigam identificar situações de trabalho escravo contemporâneo e denunciar aos órgãos competentes. 6. Combater o trabalho escravo contemporâneo.

Justificativa
O sul de Minas representa uma das áreas principais da formação e reprodução do escravismo do século XIX, tendo suas origens ainda no último quartel do século XVIII, quando deixou de ser apenas uma região de fluxo entre São Paulo, Rio de Janeiro e o núcleo duro da mineração centrado na comarca de Vila Rica, bem como aumentou sua autonomia com relação a São João del Rei. Na época atual, a região apresenta uma importante população preta e parda vítima de fortes desigualdades sociais e econômicas e do silenciamento institucional e cultural que perduram pelas gerações de descendentes de africanos e brasileiros escravizados após mais de 130 anos da abolição. O mapa da distribuição espacial da população segundo cor ou raça (pretos e pardos), publicado pelo IBGE em 2010, mostra uma representação gráfica da distribuição espacial da população preta e parda para o sul de Minas. De forma geral, a maior parte da região apresenta uma população preta e parda de 25 a 50% do total, havendo uma concentração superior, de 50 a 75%, no núcleo formado por Três Pontas, Varginha e Três Corações, justamente uma área de maior influência do campus Varginha da Universidade Federal de Alfenas. Dessa forma, o campus Varginha pode exercer uma contribuição relevante na conscientização crítica das consequências históricas da escravidão na formação local e na promoção de uma educação antirracista. A presença da escravidão nas origens históricas de Varginha e seu caráter estrutural na formação social e econômica local é um aspecto geralmente apagado nas narrativas das primeiras décadas da cidade que tendem a enfatizar a tríade café, ferrovias e imigração, sobretudo a partir da década de 1890, com o crescimento da produção cafeeira, a extensão da E. F. Muzambinho em 1892 e a chegada de levas de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis no município (Rubião, 1919). Apenas muito recentemente surgiram trabalhos de história e filologia histórica que mostram a presença da escravidão em Varginha por meio da análise de inventários, escrituras de compra e venda e registros fiscais sobre escravizados (Ferreira, 2016; Sales, 2008; Silva, 2024). Somam-se a eles, o acesso aos dados demográficos, sociais e econômicos da lista nominativa de 1832 e do Recenseamento geral do império de 1872 para a então freguesia do Espírito Santo da Varginha. Por fim, considerando o momento presente, deve-se notar a existência de famílias descendentes dos escravizados, bem como de diversos membros das elites locais com antepassados senhores de escravos, que merecem ter um conhecimento mais aprofundado do passado da cidade. Considerando que as raízes históricas da escravidão estruturam as relações sociais do presente, mas, ao mesmo tempo, não as determinam, o tema da escravidão contemporânea coloca em relevo a complexidade dos processos históricos, que não podem ser explicados por mera linearidade simplista. A conexão entre passado e presente, tendo por princípio processos de rupturas, ciclos e contradições, pode instrumentalizar a comunidade escolar como um todo e ampliar a sua capacidade analítica sobre a realidade social do presente.

Beneficiário
Membros da Escola Estadual Coração de Jesus (discentes e docentes do Ensino Médio e EJA). Discentes da UNIFAL-MG.