ACERVO DA CULTURA NEGRA CONGADEIRA NO SUL DE MINAS GERAIS

Apresentação
Esse projeto pretende dar continuidade à construção do acervo digital de entrevistas orais e audiovisuais dos grupos relacionados às culturas negras do sul de Minas Gerais, especialmente as congadas, reinados e grupos de congos e moçambiques das cidades de Poço Fundo – projeto que iniciamos em 2021, e Ilicínea, que pretendemos começar em 2022. Objetiva-se com esse acervo, além da guarda das fontes, a produção de documentários em curta-metragem. Esse projeto está sendo realizado em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura de Poço Fundo-MG, de Ilicínea e os ternos de Congo das cidades. Buscaremos produzir documentários relacionados com as oralidades congadeiras, na perspectiva apresentada pelos projetos de Cine-História. Em função da pandemia, o projeto poderá ser realizado de maneira remota, com a possibilidade de realização de entrevistas audiovisuais online.

Objetivos
Capacitar e fomentar os estudantes de graduação da Unifal-MG para projetos com práticas da história pública e de entrevistas orais e audiovisuais, por meio dos esforços colaborativos entre os estudantes do curso de História e a comunidade envolvida no projeto, especialmente os grupos da cultura negra em parceria com a Secretaria de Cultura de Poço Fundo e ternos de Congada de Poço Fundo e Ilicínea. Produzir os curtas documentários à partir das gravações das entrevistas e dos festejos congadeiros nas duas cidades e desenvolver por meio de produção audiovisual práticas de educação antirracista. Favorecer a institucionalização do Laboratório de História Pública em parceria com o Laboratório do Ensino de História da UNIFAL-MG com estrutura, instalações e recursos humanos análogos aos de seus congêneres em outras IFES brasileiras. Construir materiais, subsídios e acervos que possam orientar os trabalhos da Comissão da Afro-Mineiridade do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Minas Gerais (IEPHA).

Justificativa
Esse projeto de extensão integra o programa Laboratório de História Pública da UNIFAL-MG, e tem o intuito de abrir as portas da universidade e romper seus muros, reconhecendo o que Marta Rovai e Juniele Almeida afirmam sobre a importância da história pública em “valorizar o passado para além da academia (...) sem perder a seriedade ou o poder de análise. A história pública pode ser definida como um ato de abrir portas e não de construir muros.” (ALMEIDA, ROVAI, 2011). Os grupos (ternos) de congos, moçambiques, catopés, marujos, congadas compõem as festas de Reinados (ou festas de Congadas) em todo estado de Minas Gerais e estão em processos de reconhecimento como patrimônios imateriais pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Os festejos rememoram o passado africano, os saberes ancestrais e celebram a liberdade advinda com o fim do período escravista no Brasil (MONTEIRO, 2020). A justificativa se faz no sentido de compartilhar ainda mais um encontro desses saberes ancestrais na Universidade e propiciar um espaço de experimentação na extensão, no ensino e na pesquisa que beneficie todos os envolvidos – estudantes da graduação e pós-graduação, detentores dos patrimônios imateriais negros de Poço Fundo, Ilicínea e região, professores e professoras da educação básico e demais membros da comunidade local e regional. Desse modo, o trabalho colaborativo e as parcerias com os grupos populares, a Secretaria de Educação e Cultura do município de Poço Fundo, os grupos de Congo de Poço Fundo e de Ilicínea e os estudantes do curso de História se farão no sentido de desenvolver as práticas da história pública, alicerçadas pelos debates centrais do campo do patrimônio afro-diaspórico. As discussões sobre uma produção de conhecimento acerca do passado de forma mais próxima às demandas públicas se articulam também a questões relacionadas ao patrimônio na contemporaneidade. A política patrimonial, estabelecendo como e o que deve ser preservado e lembrado, envolve também disputas de poder e jogos de dominação. Pensar em um modelo ativo e dialógico de patrimônio e trabalhá-lo como algo que emerge da relação entre pessoas, objetos, lugares e práticas é algo importante nessa perspectiva (CHOAY, 2011; HARRISON, 2013). Além do campo do patrimônio, o conceito de autoridade compartilhada, desenvolvido por Michael Frisch no âmbito da história pública e história oral, é um importante ponto de contato a perspectiva de história e patrimônio que embasa esse projeto. Portanto, através do entrelace entre a história oral e a história pública é possível buscar ferramentas e estratégias para a ampliação e democratização do acesso ao conhecimento histórico, por meio de práticas e reflexões teórico-metodológicas importantes advindas desses dois campos e produzir, em parceria com os públicos e a comunidade em geral, as produções científicas que estimulem o que Jörn Rüsen, Sara Albieri e Luiz Fernando Cerri conceituam como “consciência histórica” (RÜSEN, 2010, ALBIERI, 2011; CERRI, 2010) para um público não acadêmico e amplo. Esse projeto está articulado com as pesquisas que venho desenvolvendo também no âmbito da minha participação nos grupos de pesquisa: “Heranças cosmológicas e Devires Extramodernos”, coordenado pelo prof. dr. Walter Lowande (Unifal-MG) e no grupo de Emancipações e pós-Abolição em Minas Gerais, cadastrado no CNPq sob coordenação da profa. dra. Hebe Mattos (UFJF) e do prof. dr. João Paulo Lopes (IFFSuldeMinas). Esse projeto interliga importantes campos e áreas de pesquisa e estudos no Brasil e contempla aspectos da Agenda 2030 da ONU, especialmente nos objetivos ligados à redução das desigualdades nos países e a educação inclusiva e equitativa. A construção do acervo propiciará que sujeitos negros e negras ligados às culturas populares de Poço Fundo e Ilicínea possam narrar suas próprias memórias e histórias e essas possam ser divulgadas e reconhecidas como narrativas de constituição do país e contribuirá para a formação cidadã de cada discente que venha a participar do projeto.

Beneficiário
Estudantes e professores(as) da rede básica pública municipal, graduandos(as) do curso de História, detentores dos patrimônios, profissionais de instituições de memória e comunidade em geral.