LITERATURA E EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS FEMINISTAS

Apresentação
Nos últimos anos, observamos um grande aumento de pesquisas na área de literatura de autoria feminina. Todavia, notamos também que esse maior interesse na pesquisa nem sempre se reflete nos currículos de cursos de graduação e menos ainda da educação básica. Nesse sentido, este projeto surge como uma tentativa de estimular a leitura e divulgação de obras produzidas por mulheres. Para isso, pretendemos construir grupos de estudos que trabalharão com textos teóricos e literários escritos por mulheres a fim de elaborarem, de forma colaborativa e dialógica, materiais didáticos, conteúdos para redes sociais e projetos a serem desenvolvidos em escolas de Alfenas, integrando, assim, a comunidade externa na construção de um ambiente de discussão para pensar criticamente a literatura e sua relação com a construção de subjetividades.

Objetivos
Objetivo geral: Construir projetos de forma colaborativa com discentes da Unifal para serem trabalhados em escolas de educação básica em Alfenas. Objetivos específicos: Formar grupos de estudos para discutir textos literários e teóricos de autoria feminina; desenvolver o pensamento crítico a partir de leituras e debates; entender a pluralidade dos feminismos e das produções literárias de mulheres, atentando para questões de raça e classe; elaborar materiais didáticos e conteúdos para mídias digitais que colaborem na divulgação dos estudos de obras de autoria feminina; atuar em escolas de Alfenas, em parcerias com professoras e professores, com o desenvolvimento de atividades que discutam textos de autoria feminina.

Justificativa
Nas últimas décadas, os estudos feministas passaram por uma “explosão” – utilizando o termo que intitula o livro Explosão Feminista (2018) de Heloísa Buarque de Hollanda – não apenas no ativismo, em números de publicações e no desenvolvimento e consolidação no ambiente acadêmico, mas também na diversificação de seu escopo. Esse cenário, embora pareça trazer um certo otimismo, se depara, no entanto, com estruturas sociopolíticas e educacionais muitas vezes conservadoras, que vêm os estudos feministas e de gênero como uma ameaça, como algo desnecessário ou, no mínimo, secundário. Virginia Woolf, em seu ensaio Um teto todo seu (2005), publicado em 1929, observa que, ao longo dos séculos, as mulheres vêm servindo como uma espécie de espelho mágico para os homens, o qual possui a capacidade de duplicar a sua imagem natural. A escritora problematiza ainda o fato de que o conteúdo das obras masculinas, quaisquer que sejam, é sempre considerado superior. Embora o texto tenha sido publicado no início do século XX, infelizmente vemos tais afirmações como realidade ainda hoje, em especial no que se refere a mulheres negras e indígenas. Em relação aos cursos de graduação, a inserção de obras de autoria feminina acaba sendo pautada por iniciativas individuais, majoritariamente de docentes mulheres, tendo em conta a maior autonomia na construção de programas de ensino. Já em relação à educação básica, com a BNCC, a literatura deixou de ser um componente curricular e passou a ser integrado ao campo de linguagens e suas tecnologias. A ideia é de que o conhecimento literário possa ser integrado de forma transversal especialmente à língua portuguesa – mas não apenas – e que se formem leitores fruidores, “ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de “desvendar” suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura. (BRASIL, 2018, p. 138)”. Uma leitura atenta à BNCC mostra, no entanto, que essa aparente flexibilidade e abertura a conteúdos acabam por deixar a literatura dependente dos outros componentes aos quais se agrega e suas respectivas competências e habilidades que, ao se relacionarem frequentemente com o mundo do trabalho, trazem uma perspectiva utilitária, proporcionada pelo ensino pautado por competências, que não vão ao encontro da experiência artística e literária e de como podemos refletir sobre a realidade em que vivemos através dessas experiências. Os índices de feminicídio, a persistência das violências contra mulheres, as desigualdades salariais e de oportunidades no mundo do trabalho, os silenciamentos, as submissões, a sobrecarga doméstica, as piadas ‘inocentes’ que as mulheres ouvem diariamente, entre outras questões, fazem parte do cotidiano de mulheres de todas as idades. São formas de opressões que atravessam séculos, etnias, classes e que encontram o eixo comum no patriarcado sob o qual nossa sociedade se estrutura. Entender essas opressões é o primeiro passo para a resistência e a luta contra tal realidade. Nesse sentido, encontramos a literatura como um instrumento para discutir a realidade, romper paradigmas e vislumbrar futuros possíveis. De acordo com Antonio Candido (2004, p. 186), “[...] a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual”. É nesse sentido que este projeto se insere no Programa de Direitos Humanos e Diversidade, à medida que busca promover acesso ao conhecimento visando à igualdade de gêneros e à representatividade. Outro ponto importante em que este projeto se fundamenta é o estímulo que a curricularização da extensão proporciona aos estudantes, cuja agência nas atividades de extensão se torna parte fundamental de suas trajetórias acadêmicas, o que os aproxima da comunidade externa, oportunizando uma formação ampla e plural. Ademais, este projeto de extensão se entrelaça com os projetos e grupos de pesquisa das docentes coordenadoras, oportunizando que estudantes se aprofundem ainda mais no tema e contribuam para sua divulgação através de pesquisas de IC.

Beneficiário
Discentes e docentes da Unifal-MG; estudantes, professoras e professores da educação básica.