CÁPSULA DO TEMPO EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA - UNIFAL 110 ANOS, CAMPUS AVANÇADO DE VARGINHA NOS SEUS 15 ANOS

Apresentação
O fim da guerra fria no final da década de 1980, ao mesmo tempo que possibilitou a estabilização das democracias ocidentais, deixou evidente a necessidade de uma reflexão acerca das esferas de participação democrática. Neste contexto, visões diferentes de democracia passaram a concorrer no âmbito da esfera pública, ficando cada vez mais clara a incapacidade do modelo democrático até então vigente de dar conta das novas demandas dos diferentes grupos sociais que passaram a se apresentar nas arenas políticas. Assim, diante do contexto atual de agravamento da crise democrática, em especial de uma significativa ascensão de movimentos políticos de extrema direita e dos ataques sofridos pelas Universidades Públicas nos últimos anos, acredita-se ser oportuno, no contexto de comemoração dos 110 anos da UNIFAL e dos 15 anos do Campus avançado de Varginha, consolidarmos nossos desejos de fortalecimento da democracia e da Universidade Pública e Gratuita.

Objetivos
Provocar nos participantes uma reflexão crítica acerca do futuro da nossa democracia, da universidade pública e gratuita e da UNIFAL-MG. Pretendemos também abarcar a comunidade externa e os demais Campi da nossa universidade, abrindo um formulário via redes sociais para que todos possam expressar seus desejos sobre o futuro da nossa democracia e da nossa universidade.

Justificativa
O Estado brasileiro tem sido enxergado historicamente como autoritário por diferentes autores (Duarte, 1939; Fernandes, 2004; Tragtenberg, 2009; Carvalho, 2009). Nestor Duarte (1939) refere que, no Estado Novo, o poder privado de latifundiários imprimiu resistência à formação de um Estado enquanto poder público, limitando a construção da esfera pública calçada em princípios efetivamente democráticos. Disso resultou a formação de um Estado fraco cujas consequências são governos fortes, autoritários ou ditatoriais. Temos que, a nossa herança de construção da cidadania depõe contra os espaços públicos, o que, para Duarte (1939) vinha amparar o status quo do senhoriato territorial da Colônia, com fins de dar continuidade ao antigo compromisso da Coroa portuguesa com o poder, reduzido aos interesses da propriedade privada. Como nação, nos formamos com praticamente três séculos em que a ampla liberdade era destinada ao espectro privado, que visava apenas ao desenvolvimento de redutos econômicos atendendo aos desejos de poucos, sendo o Estado no Brasil seria uma “reunião de famílias” com o monopólio do mando Naquilo que Duarte (1939) qualifica como o que faltaria apenas para completar o processo de diferenciação política no Brasil, o autor admite que há uma longa trajetória pela frente. Carvalho (2009) o avaliou igualmente quando se refere à construção da cidadania no Brasil, tendo restado à constituição da nação o que qualificou como “estadania”, algo que se limita a um espectro de democracia que, quando muito, é representativa. Já para Fernandes (2004), as mudanças radicais na ordem social e política brasileiras são necessárias. Nos tornamos país versado em uma trajetória escravocrata e um núcleo de expropriação colonial, que constituíram um padrão que ainda “não foi neutralizado pela ordem social competitiva, e a mentalidade mandonista, exclusivista e particularista das elites das classes dominantes. Por isso, as relações de classe sofrem interferências de padrões de tratamento que são antes estamentais (...), lembram mais a simetria ‘colonizador’ versus ‘colonizado’ que a ‘empresário capitalista’ versus ‘assalariado’” (Fernandes, 2004, p. 242). No conjunto desses diferentes autores citados, e em tantos outros que poderíamos mencionar, estão claras as dificuldades de desdobramentos à democracia, coisa que nos é imposta historicamente. Nesse sentido, desenvolver processos educacionais que levem os habitantes desse contexto a refletir sobre o que são seus desejos efetivos no futuro, tomando consciência de que ele poderá ser bem diferente do passado que herdamos é fundamental. Trata-se de uma conquista que só se torna possível ao enfrentarmos a unilateralidade dos processos de formação do conhecimento e de ensino, apontadas por Paulo Freire (1987) como “educação bancária”. Isso se torna especialmente necessário quando enfrentamos, em período recente, profundos ataques aos princípios democráticos diante da ascensão da extrema direita. A educação se torna, nesse contexto, frutífera para resgatar a história passada, desenvolver a consciência social crítica que leva a refletir sobre o presente e a projetar novos caminhos para o futuro. A metodologia desta proposta vai dinamizar um processo educativo político que, embora seja projetado para o tempo futuro, irá proporcionar reflexões importantes para o pavimentar desde já.

Beneficiário
A ação destina-se a servidores públicos, professores, estudantes da UNIFAL e colaboradores. Pretendemos também abarcar a comunidade externa e os demais Campi da nossa universidade, abrindo um formulário via redes sociais para que todos possam expressar seus desejos sobre o futuro da nossa democracia