PROGRAMA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA QUÍMICA FAZ BEM

Apresentação
Entende-se por alfabetizado o sujeito que sabe ler e escrever em sua língua materna. Mas quando se ensina ciências, uma das maiores responsabilidades é fazer com que alunos alfabetizados se transformem em pessoas mais críticas e participantes do mundo em que vivem, alcançando uma alfabetização científica. Essa é caracterizada por um conjunto de conhecimentos que permite às pessoas fazerem uma leitura crítica do mundo e sejam capazes de transformá-lo para melhor. Quando se trata da Química, a associação entre essa área e desastres ambientais ou poluição é recorrente. É preciso desmistificar esses pré-conceitos, conduzir a população junto aos saberes químicos, despertar seu senso crítico, incentivar a análise de informações, sobretudo os "cientificamente comprovados". Só assim, podemos promover uma alfabetização científica que culminará com a formação cidadã e consciente de seus direitos e deveres. Esse programa busca mostrar que a Química está presente e saber Química faz bem.

Objetivos
O objetivo principal desta ação é despertar na população que tem contato com a mesma, a importância que a Química tem nos aspectos cotidianos, seja do ponto de vista social, científico, tecnológico ou ambiental, desmistificando preconcepções que associam essa importante área do conhecimento a aspectos negativos. Para que esse objetivo principal seja atingido, delinea-se os objetivos específicos: a) produzir trabalhos de divulgação científica voltados aos aspectos cotidianos e de interesse de forma a correlacionar como a área da Química contribui com novos materiais, substâncias e/ou produtos comerciais, análises forenses, processos empregados nas artes e/ou fotografia, análises de controle de qualidade, entre outros. b) Vincular as atividades realizadas com as pesquisas desenvolvidas no âmbito dos programas de pós graduação em Química identificando as necessidades da população e eventuais saberes populares que possam despertar novas linhas de pesquisa; c) Divulgar os cursos de Química e correlatos (Farmácia, Biomedicina, Biotecnologia, Ciências Biológicas, Engenharias, Física, etc.) a partir de uma abordagem interdisciplinar dessa área da Ciência, mostrando que a Química está para além da memorização de fórmulas e símbolos, tem uma abordagem prática e implicação cotidiana e que sua formação se estende por diversas áreas; d) Despertar com as atividades contextualizadas a formação cidadã nos participantes, onde espera-se que estes sejam impelidos a lutar por seus direitos, questionar dados e informações falsas, discutindo os resultados à luz da ciência e exigindo a qualidade dos produtos adquiridos; espera-se também despertar o papel de cada um na preservação do meio ambiente com descarte correto e consciente de resíduos e lixo, além da necessidade de reduzir insumos e reciclar os resíduos gerados; e) Levar junto às escolas de Alfenas e região a possibilidade de um ensino de Química contextualizado, que priorize a tomada de decisão, a formação cidadã e consciente dos alunos em detrimento a um ensino enciclopédico, como é geralmente praticado nas escolas; f) Fomentar a participação de mulheres nas ações colocando-as como protagonistas em áreas de STEM, com baixa procura feminina; g) Produzir trabalhos científicos de qualidade e formar recursos humanos qualificados tanto do ponto de vista cientifico, cultural, da pesquisa e sobretudo, do papel social que cada um - visitante, aluno, graduando, pós-graduando ou pesquisador - exerce no mundo que nos cerca.

Justificativa
Uma das formas de fornecer condições para uma vida saudável e segura, independente das diferenças socioeconômicas existentes entre as pessoas, é a educação pública de qualidade que equalize oportunidades. Analisando o Ideb do sul de MG, percebe-se que a média para anos iniciais do Ensino Fundamental é de 6,6, enquanto nos anos finais cai para 4,5, e no Ensino Médio (EM) chega a 3,5. Isso sugere que os indicadores da qualidade da educação de nossas escolas vão decaindo à medida que os alunos avançam nas etapas de escolarização, mesmo quando consideramos outros indicadores de qualidade na educação, como o Pisa, por exemplo. O desempenho em Ciências dos estudantes brasileiros teve uma redução significativa desde as duas últimas avaliações do Pisa (de 429 em 2009 para 401 em 2015) e mesmo os 422 pontos obtidos em Ciências pelos estudantes mineiros colocaram o estado muito distante dos melhores países. Além disso, i) os melhores escores estão em escolas urbanas e de capitais, sendo que escolas do interior apresentam resultados cerca de 20 pontos abaixo das urbanas. ii) os melhores desempenhos em Ciências são de escolas federais e privadas (517 e 487, respectivamente); o desempenho das escolas estaduais (394 pontos) e municipais (329 pontos) está abaixo da média nacional e para os países desenvolvidos. iii) o desempenho das meninas em Ciências e Matemática é menor que o dos meninos, enquanto em leitura o desempenho delas foi superior ao deles. Por estes dados já se observa que o letramento científico de nossos estudantes não está sequer satisfatório, mas a situação é substancialmente pior ao se considerar os estudantes das escolas estaduais e municipais (a grande maioria), localizadas no interior dos estados, bem como quando nos deparamos com estereótipos de gênero. Diversos fatores podem contribuir para este baixo rendimento, especialmente aqueles relacionados a aspectos econômicos e familiares menos sujeitos às interferências da escola. Contudo, a educação tem papel emancipatório para as pessoas que se apropriam destes saberes, e por isso, sua oferta e efetivação deve ser igual em todos os graus e para todos, independentemente do gênero ou classe. A educação deve vincular ciência e trabalho, conscientizar cada um sobre si mesmo e seu papel no entorno, provocar a reflexão sobre as informações que são veiculadas, questionando resultados, dados, valores ou informações. Assim, a vida social de cada pessoa poderia ser mais completa. Na região sul mineira, a agricultura e a vida no campo são marcantes até nos estudantes que recebemos na Educação Superior. A cultura familiar de maior valorização do trabalho no campo do que os estudos em si (especialmente na época da colheita) traz à nossa região aspectos positivos, como os conhecimentos envolvidos na cultura do café mas ao mesmo tempo, as tradições familiares muitas vezes contribuem para que nossos jovens encontrem na lavoura e não nas escolas, sua única possibilidade de ascensão social. Nesse contexto, estudar Química fica em segundo plano e os jovens que resolvem trilhar essa área encontram barreiras desde o ensino deficitário, estereótipos de gênero e valorização do trabalho manual em detrimento do desenvolvimento intelectual. Ainda há influência da localização geográfica da escola, as instalações escolares deficientes, ausência de tempo disponível dos professores para organizar o espaço ou preparar materiais (experimentos, jogos, textos, etc.) e ainda, a falta de orientação pedagógica do professor para elaboração de atividades nas quais o aprendizado não esteja centrado na cópia do livro didático ou discurso professoral. Tudo isso conduz a uma situação em que os alunos passam pelas disciplinas de Química de forma dogmática e descontextualizada, sem identificar a relação entre o que estudam e o seu cotidiano. Por isso, entendem que o estudo dessa ciência se resume à memorização de nomes complexos, classificações de fenômenos e resolução de problemas por meio de algoritmos; ou seja, um ensino excessivamente abstrato, conceitual, enciclopédico, de cultura de almanaque e pouco atrativo. É preciso transformar esse panorama e um bom lugar para começar é em nosso estado, pois Minas Gerais tem sido assolada por desastres ambientais e/ou exploração recorrente. E a Química, vista como causadoras dessas ações negativas, também faz parte do caminho que associa o desenvolvimento científico e tecnológico às melhores condições de vida para seu povo e seu meio ambiente. O Química faz bem visa isso: por meio da pesquisa, da popularização da Ciência e da construção de estratégias diferenciadas conduzir ao desenvolvimento científico, tecnológico e social que uma educação de qualidade pode trazer, em espaços formais e não formais de ensino.

Beneficiário
Nesta ação serão beneficiados todas as pessoas que participarem. Será uma ótima oportunidade para contato direto entre os pesquisadores e comunidade. Tal ação permitirá ao estudante um contato maior com a sociedade além de proporcionar uma troca de saberes sociedade-univesidade.