Resumo: | Introdução
De acordo com a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (COOPFAM) (2014), o regimento interno do grupo Mulheres Organizadas Buscando Igualdade (MOBI) define o café feminino produzido pela cooperativa como aquele que contém 60% de participação feminina em sua produção. Entretanto, pouco se sabe das características sensoriais desses cafés.
A análise sensorial é definida como a disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar reações das características dos alimentos e materiais como são percebidos pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição (ABNT, 1993, p.1). De modo específico, Paiva (2005) afirma que a análise sensorial de cafés acontece por meio da prova de xícara, onde experts degustam as amostras e descrevem as características sensoriais do café através de notas e nuances.
Por sua vez, os consumidores utilizam ou consomem os produtos de acordo com sua preferência e seu paladar. Segundo Banov (2020) os consumidores ditam o mercado, uma vez que são os responsáveis pela compra do produto, assim o marketing é desenvolvido para atender às suas necessidades.
Diante disso, o objetivo do trabalho é descrever as características sensoriais através da visão técnica dos experts e medir a aceitabilidade dos consumidores do Café Feminino Orgânico (CFO) e Café Feminino Sustentável (CFS), produzidos pelas cooperadas da COOPFAM,
Materiais e Métodos
A pesquisa ocorreu por dois grupos de participantes: os experts e os consumidores. O primeiro grupo, composto por quatro experts, foi selecionado considerando o currículo e experiência que eles apresentavam. As amostras de CFO e CFS foram codificadas como 264 e 598, respectivamente. Elas possuíam torra média e a moagem foi imediata. Os especialistas realizaram a prova de xícara e deram nota de 0 a 100 para os atributos doçura, sabor, aroma, acidez, corpo, amargor e impressão global.
O segundo grupo foi composto por 181 consumidores escolhidos através da amostragem não probabilística por conveniência. Os cafés dos consumidores também foram codificados como 264 e 598. Ambos com torra e moagem média. Os consumidores tomaram os cafés filtrados. A primeira seção do questionário referiu-se às questões relacionadas às características socioeconômicas e a segunda consistiu na aceitação dos atributos analisados pelos experts e da intenção de consumo e de compra das amostras, através da escala hedônica de 9 pontos.
Para o tratamento dos dados, utilizou-se a Estatística Descritiva, ANOVA, o teste de Tukey e o teste Qui-Quadrado, tudo a 5% de significância e executado pelo software estatístico R (R CORE TEAM, 2022).
Resultados e Discussão
Os experts pontuaram a amostra de CFS com nota média de 78,44 e um deles consideraram ser um café bom e os demais consideraram ser um café muito bom. A amostra de CFO recebeu nota média de 75,32 pontos e todos os especialistas o classificaram como um café bom. Os experts agiram de acordo com a literatura, segundo ABIC apud Procampo (2019) as notas dadas aos cafés o classificam, segundo a sua escala, como um café bom ou muito bom.
Ao analisar as respostas dos consumidores, verificou-se que aroma, corpo e impressão global possuem aceitabilidade significativamente diferentes. Pela ANOVA encontrou-se valor-p=0.23, valor-p=0.62, valor-p=0.79 para o aroma, o corpo e a impressão global, respectivamente. Pelo teste de Tukey observou-se que as médias desses atributos da amostra de CFS são acompanhadas pela letra a. Então, conclui-se que o CFS foi mais aceito e afirmamos a sua preferência. Finalmente, para a intenção de consumo e compra, encontrou-se diferenças significativas, onde valor-p=0.20 e valor-p=0.65, respectivamente. O Teste de Tukey apresentou as médias maiores para o CFS, considerando-o preferido para compra e consumo.
Em outros trabalhos como o de Reis et al. (2021), os consumidores preferiram o café de torra escura. Além disso, Paiva, Alves e Polesi (2015) afirmam que os consumidores de sua pesquisa preferiram o corpo mais intenso. Ademais, Reis (2022) não encontrou diferenças significativas na análise sensorial de cafés orgânicos e convencionais SAT. Assim, pesquisas futuras devem investigar a influência da intensidade do corpo do CFS e da torra na sua preferência, visto que não é o manejo que define as características sensoriais.
Por fim, realizou-se o teste Qui-Quadrado e encontrou-se que não houve influência das características socioeconômicas na escolha do café CFS.
Conclusões
De antemão, ressalta-se a qualidade sensorial das amostras, visto que ambas apresentaram notas médias acima de 70 pontos. Desta forma, conclui-se que os Cafés Femininos das mulheres cooperadas da COOPFAM são de qualidade e merecem reconhecimento. Com a análise dos experts conclui-se que o CFS foi melhor pontuado do que o CFO. Sendo o primeiro avaliado como “muito bom” e o segundo como “bom”, para a maioria dos provadores. Agora, os consumidores preferiram a amostra de CFS nos atributos aroma, corpo e impressão global, sendo também a escolha destes em relação ao consumo e a compra. A preferência pelo CFS não está relacionada às características sociodemográficas e nem ao manejo da lavoura, mas pesquisas futuras devem investigar a intensidade do corpo da amostra de CFS, bem como outras pesquisas sensoriais na área de Café Feminino de maneira geral, devido à escassez de trabalhos.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Além disso, agradecemos à colaboração dos participantes, à COOPFAM pelo fornecimento das amostras de CFS e CFO, à UNIFAL-MG, ao CNPq e à FAPEMIG pela oportunidade de realizar esta pesquisa.
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