Resumo: | Este trabalho é parte de uma pesquisa temática que está sendo desenvolvida ao longo dos últimos anos no Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura Contemporâneas e que tem por objeto a noção contemporânea de pessoa humana. O presente trabalho tem como objetivo compreender o impacto da Neurociência nas representações sociais da pessoa humana tendo como foco de análise a obra O erro de Descartes: razão, emoção e cérebro humano, de Antônio Damásio. Nas últimas décadas do século XX o desenvolvimento da Neurobiologia tem problematizado os dualismos mente/corpo, razão/emoção, próprios do pensamento cartesiano, e um dos autores que tem contribuído para essa discussão é justamente o neurocientista Antônio Damásio, o qual tece uma crítica incisiva sobre esses dualismos e realoca a mente no cérebro como um processo biofísico. A contribuição de Damásio - fundamental dentro da produção dessa área, além de ter uma repercussão para além do meio acadêmico - colabora para uma nova concepção de pessoa humana. Como o trabalho está em fase de desenvolvimento, apresentaremos os resultados parciais da análise de acordo com o cronograma de trabalho do discente, iniciado em março de 2016. De acordo com Damásio, o cérebro passa a representar o indivíduo, sendo agora a base da própria pessoa e a via de compreensão dos seus aspectos sociais. Nesse sentido, portanto, desvios sociais são relacionados às limitações na estrutura biológica (lesões e deformidades), a qual determina o funcionamento normal das características sociais dos sujeitos. Para explicar a racionalidade, por exemplo, Damásio trabalha com o conceito de imagens (formação e comparação). De acordo com o autor, o cérebro percebe o corpo como um conjunto de estados corporais que estão sendo continuamente reatualizados pelo contato com o ambiente e por novas experiências. Além disso, o autor delimita as áreas responsáveis pela razão e emoção, não para localizá-las em uma local específico no cérebro, mas de forma a mostrar como elas são interdependentes no processo de formação da mente (eu). Os termos normal e anormal aparecem com muita frequência nas análises do autor. Assim, a evocação do termo anormal cria a categoria de doentes neurológicos, a qual corresponde um ser humano que não possui o aparato neurológico normal para desenvolver suas características sociais. No embate razão e emoção, o autor busca superar esse dualismo - que relegaria as emoções aos mecanismos mais rudimentares do cérebro - propondo que ambos operam conjuntamente no processamento de imagens, gerando a percepção do corpo e do ambiente. Tal mecanismo associa o cérebro a uma máquina que processa e gera imagens de forma contínua. Essa discussão coloca em questão uma nova percepção do comportamento humano e contribui para uma nova representação social da pessoa humana. |