O SIMBÓLICO E AS EMOÇÕES: AS CONTRIBUIÇÕES DE DAVID LE BRETON
Resumo:O presente trabalho integra uma pesquisa temática que vem sendo desenvolvida nos últimos anos pelo Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura Contemporâneas cujo objeto de investigação é a noção contemporânea de pessoa humana. Desenvolvido entre agosto de 2015 e julho de 2016, o trabalho teve por objetivo investigar qual a contribuição do sociólogo e antropólogo francês David Le Breton na definição de um novo objeto de estudos antropológicos – as emoções - e um novo campo de pesquisa – a Antropologia das Emoções. Apresentaremos aqui a análise da obra na qual o autor faz essa discussão: As paixões ordinárias: antropologia das emoções. A observação da influência do contexto social sobre a conduta emocional dos sujeitos foi o que possibilitou a emergência deste novo objeto de estudos da Antropologia. Assim, as emoções que eram tidas unicamente como algo da ordem do natural, do subjetivo e da essência do sujeito, passaram a ser compreendidas também como social e culturalmente construídas e modeladas. Em sua obra, Le Breton aciona diversas teorias e diferentes autores – ora concordando, ora discordando - a fim de demonstrar que as emoções não são apenas uma reação fisiológica ou psicológica, mas que são resultados de uma articulação entre estes elementos, somados ao que ele denominou como universo simbólico. Este simbolismo, segundo ele, é o que constitui a especificidade da condição humana e é o que molda o corpo físico e as manifestações, expressões e representações das emoções dos sujeitos. A interiorização desta ordem simbólica é proveniente da educação e visa garantir a inserção da criança no meio social. Então, é possível dizer que as emoções decorrem de um aprendizado, em que a criança, envolvida pela trama simbólica a qual está inserida e em consonância com sua personalidade, interioriza os sentidos e valores de seu grupo e se expressa de acordo com as “regras” e particularidades do mesmo. Dessa forma, o Outro passa a ser compreendido como uma peça chave para que a criança penetre neste universo simbólico, visto que ele se coloca como um espelho, de modo a reverberar suas expressões, como o sorriso, por exemplo. O olhar, nesse sentido, é também um importante elemento, pois vai expressar a (própria) existência, bem como a relação com o Outro. Ele é ferramenta de sincronização durante uma interação, recebe e transmite informações, orientando a troca de enunciados e permitindo uma relação afetiva entre os sujeitos. Por meio destas premissas, concluiu-se que as emoções não emanam exclusivamente de uma intimidade do sujeito, mas que são ritualmente organizadas, contendo uma linguagem verbal e gestual característica de uma cultura afetiva específica, diferindo-a das demais. Como mencionado, as emoções expressas pelos sujeitos são oriundas da educação própria de sua sociedade, atrelada às suas singularidades. Tendo seus termos emocionais e suas formas de expressão também próprios, cada uma dessas sociedades lida com as emoções em conformidade com seu simbolismo social. Desse modo, as emoções podem ser consideradas como fruto de um complexo sistema, que entrelaça aspectos da fisiologia, psicologia, cultura e sociedade humanas.
Referência 1:IC - AS EMOÇÕES COMO OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA: UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS DE DAVID LE BRETON